Levava o namoro bem à antiga, sem essa de ficar, mão na mão, suspiros, uma vontade danada de ir além, mas tudo era contido e ficava nos limites da razoabilidade, levando-se em consideração que eram dois jovens, estavam na idade do tesão que, de certa forma, tornava mais penosa a abstinência.
Abria a porta do carro para ela, pagava todas as despesas nas lanchonetes e no cinema, enfim, agia como um cavalheiro à moda antiga.
Não quer dizer que fosse frio, que não pensasse nela em situações bem sensuais, em arrebatamentos de paixão, beijos tórridos, amassos, contatos íntimos. Mas, procurava fugior de tais pensamentos, reservando-se para o casamento.
Combinaram tudo, deveriam agir assim. Ela tinha boa formação religiosa, comportada, controlava bem as emoções para que não se tornassem desenfreadas.
Porém, não quer dizer que fosse frígida, iosto não, pegava-se sonhando com ele em cenas muito românticas, românticas até demais, abraços apertados, carícias ousadas, troca de beijos demorados, perigosos. Aí, nas horas mais cruciantes, procurava mudar de pensamento, debatia-se contra o sonho, pensava no compromisso que haviam assumido de só ir fundo nas relações depois do casamento.
Mas, o diabo anda solto tentando os mortais.
Conheceu, nas idas à igreja, no encontro de jovens, o novo padre da paróquia, estrangeiro bonitão, bem novo ainda.
Não conseguia tirar os olhos do sacerdote que, a princípio descuidado, terminou por notar aqueles olhares pidões de moça bonita.
Conversaram ali mesmo na sacrestia, ele fazendo perguntas sobre o namorado, ela queixando-se do compromisso que a deixava presa, contida, impaciente, nervosa, frustrada. Disse que só estava dizendo aquilo porque se tratava de um servo de Deus, um pároco, um sacerdote. Ele, por seu turno, dizia que ela podia confiar, soltar as amarras, confessar os tormentos que vivia.
Um belo dia de sol, inesperadamente, os fiéis aguardaram em vão a missa das sete. O sacristão, aflito, comunicou que o padre havia desaparecido.
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