Paralelas
maria da graça almeida
Meu primeiro amor viajava nos trilhos. Uma só vez, distraídos, deitou os olhos sobre mim.
O apito do trem gritava-lhe o nome; bonito nome que eu mesma escolhera.
O ruído acelerava-me o coração. Sob o sol eu buscava seu rosto.
À noite sonhava com ele.
E o trem passava rápido e alongava as janelas que me confundiam. Em vão, eu permanecia à procura daquele que me habitava a fantasia de adolescente .
Na estação, dentro do uniforme calorento, via o trem partir entre os reflexos luminosos,
sem que o rosto moreno deixasse um pouco de brilho em meus olhos ansiosos e secos.
Tempos depois, eu soube do bem-amado.
Sobrinho de Maria, a severa mestra de geometria, o mocinho era José-menina.
Enfim, ganhei a alforria, mas só em parte, pois a decepção obrigou-me a internas reformas. Diante das paralelas, nunca mais me pus à vontade, nem nos sonhos, nem na classe, tampouco na plataforma.
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