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Cordel-->Cordel para Cândida. -- 27/08/2018 - 19:58 (TARCISO COELHO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Nasci em mil e novecentos,
Vinte e quatro o ano
Cidade Novo Oriente
Sei que não me engano
Terra seca e desmatada
Não dava pra fazer plano

Papai, mamãe e filhos
Dezesseis era o total
Botamos pé na estrada
Saindo da terra natal
Para em terras estranhas
Buscar vida mais normal

A seca de trinta e dois
Que nos tangia de lá
Foi uma das mais sofridas
Que vivi no Ceará
Chegando a Crateús
Não consegui mais andar

Meus tios Joaquim e Zezinha
Onde fomos arranchar
Com dó da situação
Resolveram me abrigar
Até que um dia os meus
Voltassem pra me buscar

Era grande a tristeza
Sozinha ali ficar
Vendo meus irmãozinhos
Na estrada continuar
Pra com papai e mamãe
Trabalho ir procurar

A serra da Ibiapaba
Era a meta a seguir
Meu pai iria trabalhar
Uma ferrovia construir
Pensando um dia voltar
Pra me levar dali

Quando a seca acabou
Papai, mamãe e irmãos
Resolveram voltar
Trazendo em suas mãos
As esperanças e calos
Porém salvos e sãos

Passaram a noite comigo
E muito alegre fiquei
Amanhecendo o dia
Foi que me questionei
Será que vou com eles
Ou por aqui ficarei?

A Tia me deu presentes
Pedindo pra eu ficar
Bonecas e bombons
De tudo pra me agradar
Até dinheiro me deu
E uma rede pra balançar

Decidi ali ficar
Porém muito chorei
A tristeza da separação
Que jamais esquecerei
Mas com o tempo passando
Um dia me conformei

Francisco, Pedro
E Maria Terezinha
Foram novos irmãos
Ela bem pequenininha
Era com quem eu brincava
Os Filhos da Tia Zezinha

Ali muito aprendi
Principalmente a rezar
O Credo e o Pai Nosso
Foi fácil de decorar
Ave-Maria, Eu-Pecador
Ainda vivo a lembrar

Salve Rainha, Anjo da Guarda,
Ato de Contrição,
E com Deus eu me deito
Ela me deu a lição
Sentada numa cadeira
E eu ajoelhada no chão

Foi uma Santa Mãe
Não me deixou mais sofrer
De tudo ela fazia
Pra sempre feliz eu ser
Um dia aos sete anos
Fui a Igreja conhecer

Ela e meu Tio Joaquim
Foram umas compra fazer
Fiquei sentada num banco
Mas outras partes quis ver
Sai de altar em altar
Difícil de descrever

Lá no altar principal
Igreja Senhor do Bonfim
Um Homem pregado na cruz
Deu muita tristeza em mim
Pois não sabia quem era
Nem por que morreu assim

Na aula de catecismo
Que a tia ali me botou
Sobre o Cristianismo
A Catequista falou
Que o pregado na cruz
Era Jesus Nosso Senhor

Fiquei com tanta tristeza
Que não queria mais crescer
Pra sempre como criança
É que eu queria viver
Por isso que ainda hoje
Tem uma criança em meu ser

Entre oito e nove anos
Primeira comunhão fiz
Mamãe estava lá
E me fez muito feliz
Fazendo rendas e bicos
Pro vestido que eu quis

Tão linda eu fiquei
Uma princesa parecendo
Quem sabe mesmo um anjo
Tivesse na terra descendo
Sentia dentro de mim
Muita emoção crescendo

Feita a primeira comunhão
Fui pra escola estudar
Dona Alaíde Bonfim
Ensinou-me o bê-á-bá
E no ano trinta e sete
Fui para o Crato morar

Acompanhando meus tios
Felizes no Crato chegamos
Por ser meio de ano
Vagas não encontramos
Mas logo em pouco tempo
Em novas escolas entramos

Colégio Diocesano,
Externato cinco de Julho
E Grupo Escolar do Crato
Para nós foi um orgulho
Estudar nessas escolas
Naquele mesmo mês de julho

Concluindo o primário
Na Escola Técnica entrei
O Diretor Pedro Felício
Sei que não esquecerei
Era amigo de meus tios
E eu sempre o respeitei

Ele também respeitador
Dona Cândida me chamava
Eu tinha só dezesseis anos
Por isso me admirava
Dessa forma respeitosa
Com que ele me tratava

Não conclui os estudos
Parei pra me casar
Vinte e seis de outubro
Fui levada ao Altar
No ano quarenta e três
Manoel veio me desposar

Monsenhor Assis Feitosa
A quem queria muito bem
Celebrou a Cerimônia
Do jeito que a Deus convém
E Nossa Senhora da Penha
Testemunhou o nosso Amém

Com um mês de casados
Fomos para Aba da Serra
Meu sogro me queria bem
E era dono daquela terra
Onde a vida continua
E mais sofrimento encerra

Sofria mas era feliz
Porque sempre tive fé
Minha tristeza maior
Não era uma qualquer
Era não ter os estudos
Do tanto que a gente quer

Notando minha tristeza
Meu sogro me perguntou
Porque de vez e quando
Tão triste eu estou
E quando ficou sabendo
Solução ele buscou

Cândida você vai
Aos meus filhos ensinar
E ao fim de cada mês
Três moedas vai ganhar
São mil e quinhentos réis
Pra sua vida melhorar

Ao Prefeito de Várzea Alegre
Esta notícia chegou
E aquele governante
Professora me nomeou
Mas logo fui demitida
Pelo o outro que ganhou

A Escola Estadual
Do Sítio Aba da Serra
Por decreto foi criada
Deus acerta e nunca erra
Continuei professora
E a história não se encerra

Professora titular
Da Cadeira do Estado
Por força do projeto
De dois bons deputados
Um Joaquim e outro Alfredo
Sempre foram bem votados

Meu marido Manoel
Não se sentia satisfeito
Ser marido da professora
Era menos que prefeito
E entrou para política
Querendo mais respeito

Veio a ser vereador
Em Várzea Alegre primeiro
Foi Presidente da Câmara
Mesmo sem ganhar dinheiro
Mas o status do cargo
Fazia-lhe bom Cavalheiro

Assim também foi em Cedro
Nunca mais se desgostou
Marido da professora
Ninguém mais lhe chamou
E eu que passei a ser
Esposa do vereador

Na Aba da Serra um dia
Um Médico foi me examinar
Para atestar minha saúde
E ao Estado informar
E disse ao Manoel
Para dali me tirar

Quarenta e dois quilos
Era o que estava pesando
Ali permanecendo
Só iria piorando
E acabaria morrendo
Se não fosse me tratando

O Manoel foi a Cedro
E na Igreja entrou
No altar de São João Batista
Ele se ajoelhou
E lhe pediu um emprego
Como o médico recomendou

Ao sair da Igreja
Foi ao Doutor Ibiapina
Que tinha uma farmácia
Onde exercia a medicina
E foi empregado enfermeiro
Como se fosse sua sina

Embora habilidoso
Muito pouco conhecia
Uma velhinha solicitou
Um mercado de mezinha
Pra curar a diarreia
Que um seu filho tinha


Ele sem titubear
Cem gramas de gesso pesou
E entregou à velhinha
Que uns trocados pagou
E logo chegando a casa
O seu filho medicou

Ao perceber o engano
Por sua falta de tato
Ao vender aquele gesso
Como se bicarbonato
Foi procurar a velhinha
Para corrigir o ato

Quando encontrou a velhinha
Logo lhe perguntou
Como está o seu filho,
Ele já melhorou?
Ela bem sorridente
Disse que bom ficou

Oh! Seu moço!
Ele nem mais defecou
Aquilo foi uma “rilica”
Que o meu filho curou
Outra vez que precisar
Mais mezinha comprar vou

Da Aba da Serra pra Cedro
Saiu minha transferência
No Grupo Escolar Gabriel Diniz
Continuei a docência
E em mil novecentos e setenta
Da aposentadoria tomei ciência

Naquele mesmo setenta
Fomos no Crato Morar
A terra que me acolheu
Estava no mesmo lugar
Agora nos recebendo
Para ali sempre ficar

Professora aposentada
A cuidar da casa passei
Na educação de meus filhos
Também me concentrei
Até que se formassem
O que eu sabia ensinei

Em mil e novecentos,
Oitenta e sete o ano
Os filhos já criados
Vem um desengano
O Manoel desta terra
Passa pro outro plano

Vinte e quatro de outubro
Ele Veio a falecer
A mim e aos treze filhos
Fazendo entristecer
Deus nos deu conformação
Só não vamos dele esquecer

Muito amo meu Crato
Que me alimentou e acolheu
Na infância e adolescência
E de mim nunca esqueceu
Até o título de Cidadã Cratense
A Câmara me concedeu

Meu Cedro um outro amor
Que de mim não esqueceu
Deu-me a mesma honraria
Que o Crato me concedeu
E ser Cidadã Cedrense
É grande o orgulho meu

Não para só por aqui
Pois Várzea Alegre afirmou
Que sou sua cidadã
Que ali também morou
E que a igual honraria
A Câmara me destinou.


Fim.

Relato escrito por mim e transformado em versos pelo meu filho Tarciso.

Sou Cândida Coelho Braz Bezerra, filha de Raimundo Braz de Oliveira e Maria Gonçalves de Oliveira. Fui casada com Manoel Sampson Bezerra.


Crato (CE), 12 de maio de 2013.

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