A LEITORA IRADA (miniconto)
Estava o escritor virtual meditando sobre seu próximo texto, quando a caixa de correio eletrônico sinalizou a chegada de uma nova mensagem.
Era de uma leitora irada que, contrariando as regras de etiqueta da internet, escrevera em letras garrafais:
“SENHOR ESCRITOR,
EU TERIA VERGONHA DE ESCREVER UM TEXTO TAO XINFRIM QUE NEM O SEU, VC É PESSIMO!!!
UMA LEITORA IRADA.”
O escritor sentiu-se frustrado, afinal havia se passado 26 anos desde que começara a escrever, já havia sido premiado várias vezes, bancava suas próprias publicações, e não entendia onde havia errado.
Um ponto, porém, chamou sua atenção: a grafia de “chinfrim”, além dos problemas de acentuação gráfica e pontuação.
“Como uma leitora tão crítica e observadora, não sabia escrever chinfrim?” – perguntava-se.
Havia aprendido desde o Primeiro Grau que, quando se vai escrever uma carta ou mensagem, deve-se primar pelo vernáculo, principalmente, quando se destina a uma pessoa desconhecida.Além disso, o que se escreve e a forma como se escreve reflete a cultura do missivista.
Procurou ajudá-la a refletir sobre o assunto respondendo à mensagem da seguinte forma:
“Minha Cara,
Realmente, você teria vergonha, pois “chinfrim” se escreve com “ch” e não com “x”.
Procure estudar mais um pouco e consultar um dicionário de vez em quando.
O escritor.”
Os místicos têm razão: as palavras têm poder, particularmente, de provocar emoções fortes como paixão, inveja, ira, pena...
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