Os nematóides são vermes não-segmentados, de corpo cilíndrico e alongado que habitam praticamente todas as regiões do globo, desde o frio dos pólos até o calor dos trópicos, do pico das montanhas até as fossas oceânicas. Depois dos artrópodes, constituem-se no grupo de maior número de espécies. Para se ter uma idéia, alguns lodos do fundo do mar têm mais de 4 milhões de nematóides por metro quadrado, ao passo que o solo pode ter bilhões por hectare. Existem atualmente 17 mil espécies descritas, mas acredita-se que este número é bem maior.
Até a invenção do microscópio, somente a lombriga (Ascaris lumbricoides), parasita do intestino humano, era conhecido pois a maioria dos nematóides não é visível a olho nu. Em geral, seu tamanho varia de menos de 0,3 mm a mais de 8 m (1); os do solo, por exemplo, variam de 0,5 a 4 mm de comprimento (2).
A maioria dos nematóides que atacam as plantas cultivadas tem um tamanho de cerca de 1 mm e possui um estilete bucal com o qual perfuram as células vegetais, sugando o seu conteúdo.
Dependendo da parte atacada, classificam-se em: nematóides de raíz (grande maioria), de caule e de folhas. Podem ser ectoparasitas, quando atacam somente as camadas celulares externas da raíz; e endoparasitas, quando penetram na raíz e somente se reproduzem nela (3).
Quando atacam as plantas, atuam de três maneiras que podem ou não ocorrer simultaneamente: a ação traumática, quando danificam os tecidos vegetais devido ao seu deslocamento no interior das células (Ex.: Pratylenchus sp.); ação espoliadora, quando desviam substâncias nutritivas para o seu sustento; e a ação tóxica quando as substâncias secretadas pelas glândulas esofagianas reagem com as substâncias produzidas pelo vegetal, provocando a paralisação da divisão celular na zona de crescimento da raiz parasitada, morte das células na região afetada ou hipertrofia e proliferação celulares.
Os nematóides que habitam os solos são importantes para a agricultura do ponto de vista fitossanitário por serem de difícil controle e ocasionarem perdas de 9 a 100 % na produção.
Em 1 m2 de superfície até 15 cm de profundidade podem ocorrer milhões de nematóides, chegando a constituir 98 % ou mais dos metazoários do solo. Admite-se que todos eles se alimentam de algo vivo, como bactérias, algas, fungos, protozoários, oligoquetas (minhocas), vegetais e de outros nematóides inclusive (2). Alguns podem transmitir patógenos como vírus, bactérias e fungos e esta atividade como vetor pode ter maior importância econômica que o dano provocado diretamente (3).
O controle de nematóides em clima tropical tende a ser mais difícil porque, devido às condições de umidade e temperatura, são produzidas várias gerações ao ano. Como não há nenhum método eficiente de controle, uma vez introduzidos na lavoura, não haverá outra alternativa senão conviver com eles e gastar com medidas para reduzir a sua população.
Um levantamento realizado em 75 países com 371 nematologistas determinou os 10 gêneros mais importantes para a agricultura em nível mundial (4):
Os gêneros mais importantes para a agricultura brasileira são (5): Meloidogyne, Heterodera, Pratylenchus, Radopholus, Rotylenchulus, Tylenchulus, Ditylenchus, Aphelencoides, Scutellonema, Helicotylenchus, Rhadinaphelenchus, Paratrichodorus,
Xiphinema e Criconemella.
No Distrito Federal, já foram detectados 17 gêneros, os quais são apresentados na Tabela 1.
Tabela 1 - Nematóides fitoparasitas detectados no Distrito Federal (segundo Manso et alli
O dano nas plantas ocorre de diversas formas. Em primeiro lugar, ela se debilita ao ser interrompido o fluxo de nutrientes e o dano mecânico altera o bom funcionamento dos tecidos. As raízes afetadas não podem absorver água e nutrientes, de modo que as folhas atacadas diminuem a assimilação. Alguns nematóides liberam enzimas muito ativas durante sua alimentação nos tecidos vegetais, o que provoca mudanças fisiológicas e histológicas consideráveis, resultando em diminuição do crescimento, do rendimento e da qualidade do produto.
De uma maneira geral, os sintomas apresentados pelas plantas atacadas pelos nematóides são : nanismo ou crescimento retardado; necrose, descoloração e enrolamento dos tecidos; manchas escuras nas folhas, caules e frutos; morte dos ponteiros; formação de galhas nas raízes e folhas; ramificação intensa da raíz; lesões e bifurcações nas raízes(7).
No campo, os sintomas gerais são : tamanho desigual nas plantas; murchamento nas horas mais quentes do dia; amarelecimento e queda prematura das folhas; folhas e frutos pequenos; declínio vagaroso; sintomas de deficiência de minerais em solos ricos; e diminuição da produção(2).
A atividade dos nematóides depende dos seguintes fatores;
a) Temperatura: a temperatura ótima varia de 15 a 30 ºC; temperaturas menores que 5 e maiores que 40 ºC são letais aos nematóides;
b) Umidade: entre 40 e 60 % da capacidade de campo. Em solos secos, a maioria das espécies sobrevive; em solos encharcados, há uma redução das populações, constituindo-se a inundação do solo por mais de 2 meses um dos métodos alternativos de controle; e
c) Tipo de solo: os nematóides ocorrem em praticamente todos os tipos de solo, havendo entretanto, preferências de alguns gêneros. Por exemplo, os gêneros Pratylenchus e Trichodorus preferem os solos arenosos; o Tylenchulus,por sua vez, prefere os solos argilo-arenosos; ao passo que os gêneros Heterodera e Ditylenchus preferem os solos argilosos (2).
Apesar de existirem milhares de nematóides por metro quadrado de solo, nem todos os gêneros são parasitas de plantas e têm importância agrícola. No entanto, a falta de cuidado na escolha das sementes, o trânsito por locais contaminados, o uso de adubo orgânico proveniente de áreas contaminadas e a compra de mudas produzidas em áreas contaminadas contribuem para a infestação do solo. São detalhes aparentemente sem importância que acabam evitando muitas dores de cabeça aos agricultores pois, conforme foi visto, uma vez introduzidos nas lavouras o controle dos nematóides é difícil.
O que pode ser feito é um trabalho de redução da população da referida praga através do revolvimento do solo na época mais quente do ano, expondo larvas e ovos ao sol, provocando a sua dessecação; a destruição dos resíduos das colheitas, principalmente as raízes; e a eliminação das ervas daninhas hospedeiras.
O controle químico com nematicidas não tem sido recomendado porque os produtos são caros, altamente tóxicos, de amplo espectro e persistentes no ambiente, representando um risco para a contaminação das águas subterrâneas.Portanto, o melhor remédio ainda é a prevenção!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1. MONTEIRO, A.R.1992. Características gerais dos nematóides. Informe Agropecuário,
16(172):5-13.
2. LORDELLO, L.G.E.1977. Nematóides das plantas cultivadas. Nobel, São Paulo. 197 p.
3. KRANZ, J.; SCHMUTTERER, H. & KOCH, W. 1982. Enfermedades, plagas y malezas de
los cultivos tropicales. Verlag Paul Parey, Berlin. 722 p.
4. SASSER, J.N. & FRECKMAN, D.M.1987. A world perspective on nematology: the role of
the society. In: VEECH, J.A. & DICKSON, D.W. (ed.). Vistas on nematology: a
commemoration of the twentyfifth anniversary of the Society of Nematologists. SON,
Hyattisville, Maryland. p. 7-14.
5. MONTEIRO, A.R.1995. História e perspectiva da nematologia brasileira. In: Anais do
Congresso Internacional de Nematologia Tropical, 4 a 9/6/95, Rio Quente, GO. p. 87 -