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Contos-->Foi culpa do vento -- 09/08/2007 - 20:33 (paulino vergetti neto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Foi culpa do vento


Em tempos nem tão distantes da memória, o velho Chico era um rio bem diferente do que se mostra aos nossos olhos hoje. Nele, nas velhas e saudosas canoas de tolda, passeavam embarcados desde músicos, noivos a defuntos enrolados em redes ou nos átrios silenciosos dos féretros.
No silêncio da noite, quando a lua vinha doirar suas águas, dizem os mais velhos, o rio confabulava com suas margens chamando os encantos lendários, as visões de almas, os causos obscuros.
Nossas viagens de Traipu para Penedo eram feitas nessas velhas canoas de tolda. Eu e meus pais viajávamos contentes como se o rio nos propiciasse encanto aos nossos olhos.
Naquele sábado, cedinho, estávamos prontos para mais uma das nossas alegres viagens. Eu fui o primeiro a chegar à margem e pôr os pés na canoa. Com meu lugar garantido, pus-me a esperá-los, o que não demorou.
_Frederico, arrume-se para não tombar n’água: o Chico é o Chico. Tem força e encanto.
Papai ia logo à frente do canoeiro. Mamãe agarrada à madeira da canoa e ciente de que estava firme. O bico da canoa cortava a água do rio, mansamente, como se beijos de amor lhe desse. O vento ajudava, e a canoa deslizava depressa, barriga a barriga com o velho Chico, como se cioso de amor por seu casco estivesse.
Chegamos a Penedo ainda com o sol forte. Fomos direto ao que mais nos interessava no centro da cidade. A canoa ficou lá, solitária, talvez a namorar o rio ao balanço das ondas namoradeiras.
Almoçamos uma apetitosa moqueca de surubim; mamãe preferiu um suculento pirão de pitu; melamos as mãos, ela e eu, no quebrar das patas, na delícia da refeição.
Era hora de retornarmos. Subimos na canoa, acomodamos os pacotes e fomos levados até Porto Real do Colégio. Estivemos a visitar um irmão de papai, o tio Monsenhor Álvaro. Era costume de papai visitá-lo quando próximos àquela cidade passávamos.
E sem que pudéssemos fazer nada, o vento parou de soprar e a viagem daí até Traipu teve que ser interrompida. Tivemos que pernoitar em casa do tio. Na janta, uma sopa deliciosa e eu me atirei com gulodice a ela, comi até encher. Esqueci-me do meu problema crônico.
_Mãe, e aquilo? De noite?
_Reze para seu anjo da guarda que não vai acontecer aqui.
_Mãe...
Fomos dormir; eu mais cedo que meus velhos. Lá para
as tantas da madrugada achei de acordar. Entristecido, senti que algo havia me acontecido e fiquei apavorado. A enurese noturna havia me traído mais uma vez. Eu havia me ensopado e ensopado a rede de urina. Restava-me uma solidão envergonhada.
Levantei-me apressado, com o mundo ainda escuro, dobrei a rede, escondi-a sob uma marquesa colonial na sala e corri porta afora até encontrar a canoa a balançar ancorada nas águas rasas das margens do rio. Ali entrei e não saí mais até que o dia amanhecesse e pudéssemos viajar de volta até Traipu.
_Meu filho, que coisa feia você fez!
_Mãe..., eu tava todo...
_Mas estava em casa de seu tio e não haveria qualquer problema mais sério.
_É que minha calça estava molhada e eu envergonhado...
Só me alegrei quando o vento chegou forte e a canoa pôde levar-nos de volta. A viagem estava novamente viva. Comecei então a sentir falta de não ter feito o desjejum.Sentia muita fome.
_Tá com fome?
_Tô, pai!
_Beba a água do rio.
E entre gargalhadas chegamos à terra firme e descemos todos, cheios de pacotes e eu, de histórias para esquecer de contar a quem quer que fosse. Comi feito um condenado e não quis mais lembrar-me da viagem. Quando havia qualquer delas para fazer, eu procurava indagar ao canoeiro sobre o vento, se estava mais para bom do que para ruim. Mamãe me prevenia, papai me alertava,mas quemme resolvia tudo mesmo era o vento que,quando forte,sempre me trazia sorridente de volta para casa.
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