APOCALIPSE
Na roda do fogo da Verdade
Sou ao mesmo tempo o inquisidor e o inquirido.
E nesse altar deposito
As omissões, desculpas vãs, a cegueira santa,
Cultivadas com zelo e persistência de asceta.
Milimetricamente perfeitas para esconder
O fel da Dor guardada no meu peito,
O gosto amargo, o travo, a desventura,
Que tento, em vão, mascarar em mim mesma,
(E nunca mais poderei torná-las invisíveis!)
Pergunto, e eu mesma respondo.
Discuto minhas próprias razões
(Mas logo as excluo!)
Debato-me em intrincadas explicações
(Puros sofismas!)
Em vão tento reconstruir alicerces
(Minhas desculpas!)
Mas diante da Ilusão
(Já abolida!)
Entrego minhas armas
Retiro a minha armadura
E, livre das minhas antigas veleidades,
Olho firme para o castelo que destruo...
E agora, meu Deus?
O que construo?...
15/06/2008
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