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Cordel-->XXI - O genioso fidalgo Dom Quixote da Mancha -- 16/03/2021 - 23:08 (Carlos Alê) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

 



 



XXI - Vigésimo primeiro episódio que trata da grande aventura

e preciosa conquista do elmo de Mambrino, com outras coisas acontecidas

ao nosso invencível cavaleiro



Cavaleiro e escudeiro

indo por um matagal

adentraram de repente

em uma zona rural

encontrando no trajeto

um extenso milharal



Quando entraram ali

procurando por atalho

avistaram de passagem

um prosaico espantalho

que era só um boneco

costurado com retalho



E Quixote o apontando

disse a seu escudeiro:

- Não podemos prosseguir

sem examinar primeiro

aquele velho estafermo

de treinar um cavaleiro



Sancho Pança intrigado

respondeu a seu patrão:

- Isto ali é um boneco

de remendo de algodão

feito só pra espantar

as aves da plantação



- Eu terei que repetir

que o seu conhecimento

sobre a lida campeira

é debalde num momento

em que o tema das armas

novamente toma acento?



- Pois ali no estafermo

que deixaram escondido

você vê um espantalho

só porque é parecido

esquecendo que no tema

sou bastante instruído



- Pois você tem o dever

uma vez que é escudeiro

de fazer adestramento

como faz um cavaleiro

ainda que não alcance

o primor de um lanceiro



- Na vara do estafermo

vou amarrar a rodela

Você monta em Rocinante

e avança contra ela

como se fosse Amadís

defendendo uma donzela



E depois que seu escudo

foi no boneco amarrado

Dom Quixote o carregou

para o amplo descampado

que pra ele era o lugar

onde tinha sido usado



Desejando só brincar

Sancho a tudo aceitou

Como se fosse lanceiro

em Rocinante montou

e a lança de taquara

no espantalho mirou



Foi ali que o escudeiro

imitando Dom Quixote

deu a carga esquecendo

já não ser um rapazote

e gritou se aprumando:

- Sou agora Lancelote!



Com a lança apontando

pra sua sorte ou azar

bem no meio do escudo

conseguiu ele acertar

e com a força do golpe

fez o boneco rodar



O espantalho girando

desferiu de supetão

uma varada em Sancho

que deixando um vergão

fez o mesmo desmontar

caindo bambo no chão



Quixote foi acudir

o escudeiro estirado

dizendo que o revide

do boneco era esperado

e ali mesmo no chão

Sancho foi elogiado



O que Sancho retrucou

tem o grau do desatino

de um longo praguejar

o qual repetir declino

pois teria que o fazer

só em verso fescenino



O leitor mais exigente

que procure nos relatos

do cronista Benengeli

uma apuração dos fatos

feita com maior rigor

em impressos correlatos



Sancho Pança pra poder

da queda ir recobrando

precisou ficar sentado

um momento descansando

e os dois aproveitaram

esse tempo conversando



Permeando a conversa

com ditados populares

coisa que o escudeiro

conhecia aos milhares

falaram de cavaleiros

e assuntos similares



Sancho Pança descobriu

que Dulcinéia, a rainha,

era Aldonza de Lourenço

com quem parentesco tinha

sendo ela a concunhada

do avô de uma vizinha



Disse ele que na vila

onde era conhecida

era simples porcariça

que só andava fedida

trabalhando na pocilga

com os porcos entretida



Dom Quixote na defesa

de Aldonza ou Dulcinéia

disse que ela seria

pra sempre a sua tetéia

comparando a sua musa

com a grácil Galatéia:



- Pois vivia numa ilha

um monarca escultor

que no seu belo jardim

trabalhava com ardor

Todo o povo conhecia

seu trabalho e valor



- A não ter uma esposa

já estava decidido

que só damas indecentes

o queriam por marido

mas tiveram todas elas

recusado seu pedido



- E fazendo a escultura

de uma linda donzela

mesmo sem ter uma dama

para ser modelo dela

percebeu que estava ali

a sua obra mais bela



- E a deusa Afrodite

adentrando seu jardim

vendo tanta perfeição

na donzela de marfim

já sabia que na ilha

não havia dama assim



- E ficando Afrodite

nesta hora comovida

desejando dar ao rei

a esposa pretendida

fez então uma mulher

da imagem esculpida



- O rei Pigmaleão

no sonho realizado

com a bela Galatéia

ditoso ficou casado

Pela sua compostura

ele foi recompensado



- Os poetas são assim

feito um Pigmaleão

Quando elegem sua musa

pra lhes dar inspiração

é a quem vão dedicar

versos cheios de paixão



- E assim vejo Aldonza

virtuosa e requintada

que tem uma louçania

só com fadas comparada

e pra mim sempre será

minha Dulcinéia amada



Essa Aldonza que conheço

apenas de ouvir falar

é a princesa perfeita

a quem sempre irei amar

e meus feitos valorosos

sempre a ela dedicar...



Sancho Pança escutando

disse que tinha 1 porém

pois mesmo a sua patroa

a quem mais queria bem

tinha suas qualidades

e seus defeitos também



- É fácil amar a princesa

que nunca lhe dá ensejos

de saber se ela existe

tal e qual os seus desejos

e nem possa transformar

seus suspiros em bocejos



Sancho Pança sugeriu

a Quixote uma idéia

de irem ao povoado

conhecer a Dulcinéia

pra saber se ela seria

mesmo a sua Galatéia



Estando nestas conversas

começou um chuvisqueiro

Montado no seu jumento

apareceu um barbeiro

que distraído subia

na vereda do outeiro



Pra poder se proteger

da chuvinha que caía

o barbeiro colocou

na cabeça uma bacia

e montado num jumento

o barranco ele subia



E Quixote o avistando

disse a seu escudeiro:

- Sancho Pança, veja que

vem subindo um cavaleiro

cavalgando num corcel

que galopa bem ligeiro



Sancho Pança intrigado

disse sem acanhamento:

- Eu só vejo um cidadão

que montado num jumento

vem subindo na colina

com um trote meio lento



Mas Quixote respondeu

já montando no eqüino:

- É mais uma aventura

que nos trouxe o destino

O guerreiro na cabeça

tem o elmo de Mambrino!



Dizendo isto Quixote

seu cavalo esporeou

Na descida do outeiro

resoluto disparou

e pra cima do sujeito

com a lança avançou



Rocinante que descia

galopando no embalo

progredia na ladeira

com tropeço e resvalo

Dom Quixote confiante

foi gritando no cavalo:



- Escute o que eu digo

cavaleiro atrevido!

Me entregue o morrião

que a mim só é devido

ou vai conhecer a lança

dum guerreiro aguerrido!



Sem ao menos entender

o que estava acontecendo

o barbeiro do jumento

bem ligeiro foi descendo

e derrubando a bacia

para o mato foi correndo



Dom Quixote satisfeito

vendo a bacia no chão

disse para o escudeiro

recolher seu "morrião"

que depois de um exame

deu a dita a seu patrão



- Se um dia retornar

para minha parentela

vou limpar esta bacia

com estopa ou flanela

pois parece muito boa

de fazer a barba nela



- Pois foi o mago Frestão

que com a sua magia

fez o elmo de Mambrino

parecer uma bacia

mas é como um bacinete

que tem a sua valia...



- Acontece que isto aí

nunca foi um capacete!

Eu conheço uma bacia

e conheço um bacinete

A não ser que isto seja

talvez um bacianete!



E os dois se revezando

entre falante e ouvinte

as suas próprias idéias

defendiam sem acinte

Vamos ver como ficou

no episódio seguinte



 



 


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