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Contos-->Virtualmente Traído! -- 15/09/2007 - 21:36 (paulino vergetti neto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Virtualmente Traído!

Olhei-a desatencioso, como algum cego a olhar uma paisagem bonita; como se estivesse fazendo o dever de casa para ganhar bombons de coco - aluno sem escola, talvez. E o meu espírito desalegre albergava os desalinhos produzidos por alguma velha tristeza já macerada pelo tempo, lembranças cheias dos espinhos da vida, vomitados pelas náuseas fortes que a memória enviava ao coração. Havia lágrimas em meus olhos. Sentia dor minha alma aflita. Lembrei-me ao vê-la de que, à época em que mais a amei, fui traído, ajudado por uma madrugada fria e deszelosa, cúmplice de um computador e de um efeito virtual que adentra em minha casa e se permite tudo fazer.
Era tarde. Lembro-me como se houvesse acontecido hoje. Desci as escadas. Tinha acabado de ler os jornais do dia – como sempre atrasado-! Fui à copa, tomei água, espreguicei-me e ouvi a zoadinha do laptop dela anunciando as entradas dos amigos virtuais no frevo da parolagem. Fui até a biblioteca. Entrei subitamente como se soubesse que ali havia algo errado. Ela assombrou-se ao me ver a seu lado e olhando atento para o monitor do computador.
- Quem é esse homem, Verbena?
- Ah..., nem sei..., eles entram assim, sem a gente permitir.
- Duvido! Você tem que ter autorizado antes a sua filiação ao MSN.
- Eu...? Nunca!
- Não me faça de trouxa!
- André...
- Nada de André!
Ela quis apagar tudo e não conseguiu. Avancei sobre sua mão direita e apaguei o monitor. Puxei-a da cadeira com força. Minha força estava sendo em vão. Não conseguia retirá-la. Mais força! Nada. Permaneceu firme vinte minutos gastando energia, enquanto eu tentava retirá-la da biblioteca.
Consegui a muito custo físico sentar-me e evitar que ela impedisse que eu navegasse em seu MSN.
- Ele viu toda a conversa?
Aproveitei, para responder como se ela é quem estivesse teclando.
- Não.
- Mas ele chegou!
- Sim, chegou.
- Meu amor, ele não te machucou?
Meu sangue subiu e mandei-o para aquele lugar. Passamos uns três minutos discutindo com palavras de baixíssimo calão. Ela conseguiu desligar o PC. Tentei ainda várias vezes conseguir retomar a conversa, mas sem sucesso.
Separação de corpos. Passei a vê-la como uma adúltera. Meu amor verdadeiro permanecia intacto, mas o outro, o sexual, esse evaporava a cada dia. Chorei às escondidas – soluçava mesmo! Arrumei a mala para sair de casa e de certa forma ela me impedia e chorávamos abraçados, mas a imagem era forte e eu não conseguiria esquecer mais.
Olho-a ainda hoje e vejo a cena passando. Ela continua indo dormir tarde, lá pelo começo da madrugada. Às vezes desço até a metade da escadaria do quarto e ouço o bip da entrada das pessoas em seu laptop. Os bips são como espinhos, furam-me na carne e na alma. Ela se viciou e não posso mais fazer nada. Se pego no trinco da sala onde está, sinto que ela rapidamente apaga tudo e até aprendeu a disfarçar bem diferente de antes quando suas bochechas mascaradas denunciavam tudo.
O virtualismo não fatasmizou nada. Para mim, tudo é muito real. O amor de antes se dividiu. Meus sentimentos ardem. Ela, em pensamentos, viaja todas as noites, talvez deliciando-se com as palavras mundanas que chegam à tela do micro como incentivo ao adultério.
Há hoje uma outra mulher. Viva, mais inteligente, dribladora dos instantes reversos.
Pôs meus filhos entre nossas divergências. A família ruiu. Hoje nos toleramos. Ela não me obedece mais como antes. O PC é seu maior vício.
Mas o tamanho de minha dor é dado pelas experiências que tive, adulterando-a virtualmente antes, mesmo que ela sequer soubesse ligar um computador. Fui assediado pelas palavras e pelas imagens que me chegavam de todos os lugares do planeta. Traí-a em lugares diversos. Mantive romances com várias ao mesmo tempo sem que ela desconfiasse. Sei o que pode ser feito via internet entre duas criaturas. As Webcoms trazem as presenças físicas alheias para dentro de nossos quartos. É praga sobre praga. Não há sinais de SOS. Tudo é permitido. O clímax fica por conta do encontro marcado no fim dos múltiplos bate-papos. Os corpos se conhecem já sem cerimônia. Parece que somos marido e mulher; amantes amados, há anos.
Desnavegar é preciso. A família é bem maior do que todo esse circo sem palhaço que está aí. Somos também malabaristas do tempo da informática. Amor que se inicia sem necessitar de camisinha mas que chega a dela carecer com o passar do tempo!
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