Por um triz
Por um triz, não fui feliz.
Por um triz, perdi a vida
que sempre quis. Por um
triz, não disse, não quis,
não fiz.
Por que me calei ? por
que não gritei, bem alto,
bem forte, a verdade, que
no meu peito ardia e triste
me dizia: não vás por aí.
Por um triz, não quis. Por
que não quis? Se já sabia,
já antevia a agonia, que em
sonhos já via.
Por um triz, o que podia
Fazer por mim, não fiz. E
nem estava mais sozinha,
ali já tinha uma mão, que
só queria a minha mão
segurar, e junto comigo
dali se afastar.
Esperei tanto uma porta
aberta numa parede sem
porta. Procurei tanto uma
saída em cantos escuros,
que nada tinham para me
oferecer.
E de repente, sem esperar,
sem procurar, veio até mim
tudo que sonhei, que desejei.
E era tão lindo, tão claro, tão
nobre, uma alma pura, cheia
de sonhos, cheia de vida.
E tinha o sabor da riqueza
interior. Que vida apetecida
aquela alma querida queria
me dar. E por um triz, não
amei, não vivi, não fui feliz.
Lita Moniz
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