Número do Registro de Direito Autoral:131420488051810600
RIDÍCULO.
Ana Zélia
Ridículo é o que eu penso da vida.
Ridículo é se querer ser, quando nada somos.
Ridículo é tentar escrever sem ter assunto.
Ridículo é ter-se duas mães e sentir-se órfã.
Ridículo é nos tornarmos mudos quando sabemos falar.
Ridículo é iludir-se com “tudo” e não se ter “nada”.
Ridículo é querer amar e ser amada.
Ridículo é quando amamos tanto e não somos nada.
Ridículo é vivermos numa sociedade que esmiúça nossa vida, como se fôssemos alguma coisa e não somos “nada”.
Ridículo é nos tornarmos ridentes, quando perdemos o único motivo de vivermos. Amar e ser amada.
Ridículo é sermos tratada como “canhão de guerra”, que nenhum mal causa a não ser a si mesma.
Ridículo é o fingir ser bela, estrela, quando perdemos o céu, não temos brilho.
Ridículo é este pisar covarde de alguns nas pessoas.
Somos frágeis, temos uma vida que nada vale.
Ridículo é se ter dias contados para a partida, quando nem sequer chegamos ou nos perdemos na caminhada.
Ridículo é sermos numeral, quando nos deram nome.
Ridículo é chorar pela paz, pedi-la a Deus, quando ela acabou faz tempo.
Ridículo é se querer morrer para poder viver.
Ridículo é sermos invisível a olho nu, quando somos matéria de carne e osso.
Ridículo é o ir e vir à procura de não sei o quê.
Ridículo é se chorar na despedida, por alguém que nunca nos pertenceu.
Ridículo é o medo de tudo, sem sermos “nada”.
Ridículo é o futuro que nos reserva o destino, cinco palmos e o pé, um buraco improvisado, flores atiradas, barro jogado com mãos de ódios ou de amor, pior ainda é o esquecimento...
Ridículo é se roubar uma flor, iludindo a si mesma.
Ridículo mesmo é se desejar um beijo na testa e ele nunca ser dado nem mesmo pelo vento que nos sopra o rosto.
Ridículo é a perda de tempo, escrevendo “nada”...
(Poema publicado em “ A Crítica”, Manaus-Am 20.11.1989) e parte do livro Mulher! Conquista fácil!... (poesias e crônicas) publicado pela Universidade Federal do Amazonas/1996.