Eu acredito !
Na rendição humana antes de nosso caos,
Nas cores das flores, parorase de meu jardim,
No muro insólito de nossas ações,
Na relva que rasteja sobre os nossos excessos.
No santo vigário de minha miséria contextual,
Nos amigos que rodeiam com os seus chapéus nas mãos,
No relógio inquisidor a me violentar,
No cálice intragável que engulo sem altercar.
No miserável que se arrasta nos semáforos de minha terra,
Nos flanelinhas que cuidam de meu caco,
Na fila de supermercado no quinto dia,
Na loteria em que coloco minha última moeda.
No respeito mútuo de nossos cidadãos,
Nos motoqueiros que enfeitam nossas avenidas,
No jornal nosso de cada dia,
Na novela que ensina os segredos da vida.
No guarda da esquina que fica ligado toda a noite,
Nas escolas que formam jovens auspiciosos,
No perdão marginal que poupa a vida,
Na lei cega, muda e surda dos tribunais.
No troco da padaria onde compro pão,
Nos impulsos telefônicos que tenho que pagar,
Na gentileza social encontrada nos cantos da cidade,
No seu dedo hirsuto a apontar em minha direção...!
Ricardo Marques |