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Contos-->"Um Encontro sazonal quase impossível" (ou: Velho caso ...) -- 31/08/2008 - 13:23 (MARIA CRISTINA DOBAL CAMPIGLIA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Número do Registro de Direito Autoral:131013759657641600
UM ENCONTRO SAZONAL,QUASE IMPOSSÍVEL

(ou : do “Velho caso de amor entre duas Estações”, ou ainda
do “Por quê o Clima anda mudando tanto na Terra”) Maria Campiglia

“Sou velho e estou solitário.

Não, você não está.

Estou sim, e você sabe. Não adianta negar: todos aqui me acham ruim.
Não agrado ninguém. Você gostaria de estar no meu lugar?

Não, eu não gostaria. Mas isso, não porque o ache ruim, mas porque eu gosto de mim mesma, assim como sou.

Bom: não se trata disso. Antes eu tinha muita força. Muito mais do que agora. Andaram me enfraquecendo. Sou um resto de épocas, com estigmas que- ao invés de me fazerem temido- viraram espinhos que tenho que carregar...

Não pense assim. Não exagere. Tudo tem seu momento certo. Sabe que sem você, eu seria um tédio. Todos me abominariam, e eu cansaria a todos : mas como você costuma ser muito rude, no final do seu tempo, eles torcem para que eu chegue! (ela ri). E também de você, ninguém se cansa. Há o chocolate quente, os amores sob cobertores, as paisagens que levam seu nome, a neve, os hálitos visíveis...Quase todos gostam...

Você me acha senil: acha que não percebo que quer me consolar? Também você, quando aparece, traz a festa. Há as flores, os pássaros, as árvores e os jardins. Os amores também, a brisa, as pipas e os desenhos de crianças. Aliás, desenham-te muito. Já a mim... ficam torcendo para que eu vá logo...

Estás mesmo é com sintomas de derrotado. Isso não é por estar velho. Velho por velho, está aí meu irmão, o Verão... tão velho quanto você. Eu mesma também sou - tanto quanto- se for por isso...Olha aí...Desde a época em que os gregos apelidaram-me de Perséfone e os romanos chamaram-me de Core – para os gregos eu ainda seria uma espécie de enfermeira das almas dos mortos...Só porque tento recebe-los bem quando chegam lá por onde moro ...o que achas?- (ela ri...)

(ele agora ri, achando engraçada a associação...)

Você é linda. Sua aparência é de bela jovem, e sabe disso: nunca vai mudar.

O quê? Já andei perdendo a frescura. Sabes disso também, querido: muitas flores que existiam antes, plantas e pássaros- já não existem mais, não os tenho mais para festejar a minha chegada...

Ainda tens muito... E por mais que rias dos gregos e dos romanos, tu sabes que dominas até hoje meu pobre coração...em outros termos, tu me lascaste...(ri)

Não digas assim...

É verdade, há quanto tempo esperava eu uma oportunidade para te ver de novo? Você? Nem se importou estes séculos todos...

Não é verdade, tanto que estou aqui... Tenho culpa se não me deixavam? Sabes como são as terras sombrias. Sabes do ciúme dele, velho Hades... se bem que... Nós dois mudamos, mas pode até ser que eu não lhe cative como antes...

Não é isso, certamente não: é que tudo mudou. E nós todos estamos ficando velhos. Essa é a verdade- estamos com muitos séculos nas costas. Aliás, eu estou feliz com estes encontros rápidos e furtivos... Tomara que nunca as coisas voltem a ser como antes... Você sabe que vou fazer uma proposta.

Não, eu não sei de nada.

Sabes, sim. Não finjas de ingênua, e não me deixes mais encabulado e triste...

Não finjo. No que estás pensando?

Quero estar mais contigo, marcar encontros. A gente descobre que ainda é possivel amar...e assim fico menos solitário, recupero um pouco a minha força, ou no mínimo, ficarei mais feliz. Seria uma enorme felicidade poder te namorar. No fim das contas, se ele não tivesse te roubado, hoje poderíamos estar juntos...

Como assim, “juntos”? Você acha que então conviveríamos na Terra no mesmo lugar, ao mesmo tempo?

E por quê não? No fim das contas, as coisas andam mudando naturalmente e ninguém se machucou por isso...Bom, acho que até muita gente se machucou, mas...não foi culpa nossa. Dizem que tem sido culpa dos próprios seres humanos... Se estamos nos encontrando é porque conseguimos algum tempo em comum...

Não, seu tolinho. Nós estamos nos encontrando porque esta é a época em que você vem para este país -o Brasil- exatamente entre 21 de junho e 20 e alguma coisa de setembro...

Claro, como sabes? Então quer dizer que vieste por conta própria? Sabias das minhas datas?

Eu sempre soube...

Caramba! Não pensei que lembravas assim de mim, que pensavas em mim...estou sem fala. Estou começando a me sentir animado de novo...

Bom, você andou amolecendo a rudeza...Não me importam as razões. A minha Mãe me disse que teu frio anda até meio duvidoso em alguns países, que você já não mata como antes...eu fiquei contente com isso...Achei que isso permitiria que eu chegasse perto, que olhasse você um pouco mais...No fim das contas também sinto saudades...Mas engraçado...Gostei de te encontrar aqui, no Brasil. Neste lugar tuas façanhas são mais tênues, tuas geadas nem sempre são tão definidas e até parece que há lugar para eu sair à varanda alguns dias...Bom, é verdade que castigas o Sul do Brasil, mas parece que as pessoas por lá já te esperam e sabem te receber... Tens até flores por aqui...

Flores? Eu?

Não sabes? Pôxa, tinha que ser o machão da história...você não sabe que tem flores na tua cola? Tens fãs que só nascem quando chegas, e tu nem sabes...Que falta de sensibilidade!

Não fales assim, se não sei é porque ensinaram-me a valorizar outras coisas...eu concordo. É muita falta de dedicação à Terra da minha parte...Quem são elas?

Muitas! A camélia, por exemplo : é a rainha das flores tuas, belíssima! Depois tens as amendoeiras, alguns tipos de orquídea (uma tal de “Flor – de- Maria” )as paineiras, os lírios de inverno...Todas do teu tempo...

Nossa! Eu juro que até hoje, não sabia disso...vai ver já queimei muitas delas nas minhas andanças com gelo e geada...Mas agora que tenho você, quero vê-las...

Volte a falar da proposta...

A minha proposta é a gente se encontrar sempre antes de eu ir embora, e você me visitar quando estou no auge, de vez em quando...Posso te emprestar uns dias, ficar mais leve, permitir o Sol, teus passarinhos, tuas pipas...

Bom, acho que estou gostando da idéia...Aqui no Brasil, onde estamos agora, isso é possível. Não vai ser possível em todos os países –no teu solstício no hemisfério norte, quando chegas lá em 21 de dezembro, eu estarei longe. Não dá, porque preciso ajudar meu irmão (o Velho Verão) aqui deste lado, no sul...mas como aqui no Brasil nos é permitido um limite mais frouxo, a definição não é tão rígida entre tua permanência e a minha...podemos sim combinar...

Eu sempre te amei, sabes disso...

Sim, eu sei. Eu também – sempre soubeste.

Creio que rejuvenesci alguns séculos com tuas palavras... Mas, e...o Hades?

Bom, ele anda sempre na mesma. Teima em dizer que é o tal, mas as terras do submundo tem lá as suas belezas...Eu não ligo- se ele quer ficar por lá sempre, que fique. Sou uma feminista livre- ando por onde quero... Aprendi que o lado feminino não é só das mulheres, até você o anda expressando, Inverno- e aqueles que o descobrem tornam-se mesmo mais amenos e abrangentes...Nas terras sombrias está cheio de beleza, assim como na superfície da Terra. Pobres daqueles que negam um lado da Vida...ou da Morte! Negam um lado do seu coração, é o caso do Hades. Mas um dia, ele aprende.

Por isso te amo, Primavera. Es uma Deusa : sábia, bela, revolucionária. Não é à toa que todos te recebem tão bem.

É bom que saibas que nos teus dias em que eu te visite, o Sol estará presente onde estivermos- e já que não podemos conviver declaradamente no mesmo hemisfério ao mesmo tempo, faremos isso sem dizer a ninguém. Talvez a Terra não entenda muito, mas ela é uma Mãe: ela vai apenas fazer de conta que não nos viu...No fim das contas, só estaremos ocupando juntos um pequeno espaço dela. E mesmo que não dê para eu trazer minhas flores, eu beijarei as tuas, e tu as conhecerás. E assim, as pessoas poderão plantar as duas em seus jardins: as flores de Primavera, e as flores de Inverno- e nosso caso resistirá para sempre...

MARIA CAMPIGLIA


NOTAS: (1) diz a mitologia grega que
“ao ter ganhado a guerra contra os titãs, Zeus, Posidon e Hades dividem o universo entre eles. Zeus ficou com o Céu e a Terra, Posidon com os Mares e Hades com as terras baixas e sombrias. Os gregos chamavam de Terras Baixas, aquilo que os católicos chamam de inferno. Seu rei era Hades. Um deus temido e conhecido pela sua invisibilidade.
Zeus e Deméter (a Deusa da Agricultura) tiveram uma filha chamada Perséfone, por quem Hades apaixonou-se e a quem raptou, levando-a consigo para as Terras Baixas, tornando-a assim a Rainha das Terras Baixas.
Deméter ficou abalada com isso, descuidando dos seus afazeres. As terras assim ficaram inférteis e os alimentos escassos. Ela também foi atrás de sua filha nas Terras Baixas, e lá viu que Perséfone não havia rejeitado totalmente Hades.
Perséfone então, volta para visitar seus pais Zeus e Deméter, todos os anos. Na época em que ela volta para Deméter, as terras ficam ricas, marcando a época da colheita. Quando Perséfone volta para Hades nas Terras Baixas, volta a escassez na Terra.
Também para os Gregos Perséfone ficou marcada como a deusa que vigiava as almas dos falecidos. Para os romanos ela era conhecida como Core, e ficou associada aos símbolos da fertilidade, a romã, o grão e o milho.”

(2) Aprende-se com a Geografia que:
Inverno é mais fria estação do ano. No hemisfério norte, se inicia por volta de 21 de dezembro, no solstício de inverno, e termina em 21 de março, no equinócio de primavera. Já no hemisfério sul, o inverno se inicia em 21 de junho e termina em 23 de setembro.
Em certos períodos do movimento de translação, alguns pontos da Terra ficam bem próximos ao sol, em contrapartida, outros ficam mais distantes. Na parte que está mais próxima do sol, é verão; na mais distante, inverno. Por esse motivo, nenhuma estação pode ocorrer simultaneamente em dois pólos da Terra.
O inverno, várias espécies de animais, principalmente de pássaros, migram para outras regiões mais quentes. Outros animais, como ursos, hibernam nesse período, reduzindo grandemente sua atividade metabólica. Em muitas regiões, pode ocorrer a incidência de neve e geadas.
No Brasil, pelo fato de não haver estações bem definidas, o inverno não é tão rigoroso como em outras regiões de clima temperado; os efeitos típicos da estação são sentidos apenas na região Sul, que apresenta temperaturas pouco acima dos 0ºC.













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