Antologia 1000 Sonetos AVSPE 2009 (*)
Selecionados por Efigênia Coutinho, presidente da AVSPE (SC) para a "Antologia 1000 Sonetos AVSPE 2009", retirados do Livro "Magia", Campinas (SP): Editora Komedi, 2006, pp. 49, 85, 89, 92 e 121 respectivamente.
Dúvida (*)
Todas as tardes em que vejo o sol
Se esconder entre as serras, tão distante,
Escuto orquestração harmonizante,
Expressa no cantar de rouxinol.
Questionamento faço, e o arrebol
Transmite apenas dúvida: meu semblante
Retrata a dor que surge penetrante,
E sustenido muda pra bemol.
No telhado da casa, a passarada
Alegre dá concertos magistrais
Pra me abalar e reduzir a nada!
É de manhã que os mesmos divinais
Pássaros chegam; minha alma frustrada
Pergunta: e o meu amor?... Não volta mais?
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(*) "Escritos Feitos de Música", 1ª edição, Rio de Janeiro, Litteris Editora, 1996, pág. 26.
Namorando (*)
Meu anjo, este puro sentimento
Que nos liga demais nasceu profundo
(Talvez das sutilezas do mundo!)
Pra alimentar-me de ilusão -- que aumento!
Reconheço: otimista o pensamento,
Todo o filosofar, meditabundo,
Surge como se fosse algo sem fundo
--, Abismo em que de sonho me sustento.
Devaneio, querida, não malina.
Penso (ainda que tarde!): como pode
Tentar-me tanto a doce e alva menina.
Pra ti, hei de compor somente ode,
Com o desejo, forte, que alucina:
Que amplo clima de amor para nós rode!
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(*) Brasília, DF, 21/03/1966.
Nitidez (*)
"Há coisas que demoram pra chegar";
Outras há que sucedem muito cedo:
Umas, tão lindas, vêm num terno enredo;
Outras, tristes, nos marcam pelo azar.
O tempo, mestre em tudo, devagar
Vai, de nós, alterando, em tom azedo,
A expressão que dizíamos sem medo
De refletir: "Nunca é tarde pra amar!"
Agora, quando estamos no final
Da vida, percebemos que a atitude
Dura foi totalmente imparcial.
De nada nos valeu o: "Deus ajude!"
Não é exato o coração, e o mal
Jamais escolhe cor ou magnitude.
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(*) Brasília, DF, 10/01/1967.
Otimismo (*)
Sim. Hoje vou dormir tranqüilamente,
Sonhar que é minha como prometeu;
Crer que o tempo não passa, porque meu
Sonho ilude e conserva o amor ardente.
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Brasília, DF, 21/09/2009.
Sentimento que engana sabiamente,
Fazendo-me pensar que sou Dirceu
Na arte de compor versos para seu
Decote, sempre mais benevolente.
Que este idílio prossiga, reproduza
Toda a minha ilusão num só instante
E não me deixe nunca a alma confusa.
Ainda que em devaneio, ser o amante
Que fita, rasga e despe sua blusa
De seda e cetim, é gratificante!
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(*)"Novos Tempos", 1ª edição, Rio de Janeiro, Litteris Editora, 1992, página 35.
Vai (*)
Aproxima-se a nossa despedida.
Irás e hei de ficar triste demais.
O momento chegou. E nunca mais
Hás de voltar. Podes partir, querida.
Se alguma chaga me ficar doída
No peito, o tempo há de curar; jamais
Quero rever o que passou. Os ais --
Que sobram -- serão restos de vida.
Há muito que eu notava o patamar
E esse fatal momento em que haverias
de, aos poucos, sem dizer, me abandonar.
Sempre foram tão negros os meus dias,
E uma tristeza a mais (ou esse azar!)
Não dói... Segue levando as alegrias.
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(*) Brasília, 16/02/1966.
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