Usina de Letras
Usina de Letras
145 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62219 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10362)

Erótico (13569)

Frases (50614)

Humor (20031)

Infantil (5431)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140800)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6189)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->Respeito é bom -- 02/11/2005 - 11:50 (maria da graça almeida) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Respeito é bom
maria da graça almeida

Pernas inchadas, profundas olheiras. Horas e horas a limpar sanitários, a serviço de madames enjoadas e crianças mimadas. Depois a esticada à venda, na tentativa de levar fiado o alimento que enganaria os estómagos famintos de casa. Poucos pacotes, muito cansaço.
Quase todo dia era assim, quase todo dia a sensação estranha de um abuso feliz. As forças andavam minadas e ninguém se preocupava, bobagem. Ainda assim, pressentia-se querida e o sentir lhe bastava.
Um bando de chupins, na verdade, bebendo e comendo às suas custas. Ainda se fossem seus, mas não, eram filhos de um marido que, entre coisas piores, passava o dia a coçar as costas nos batentes descascados das portas. Regatas, chinelos, barba por fazer, o palito de fósforo na boca. Nos dedos amarelados, cigarros comprados com o dinheiro pequeno da mulher a quem chamava de princesa e para quem compunha melosos versos, a rimar devoção com coração.

Trabalhar?
-Ah! Isso é coisa pra gente saudável!- explicava ele, com naturalidade.
Ando mal. Quem daria emprego a um enfermo?
-Você tem procurado?
-Não, como vou sair assim?
- Assim como?
-Doente.
-Ah...
E nem sequer enrubescia, cara-de-pau, mesmo.
Na boca um bafo nojento de cigarro, álcool e falta e higiene.

Um dia a mulher desmaiou, com fortes dores no ventre. O dono do buffet ordenou ao motorista que a deixasse no primeiro pronto-socorro público que encontrasse pelo caminho.
Diagnosticaram sua primeira gravidez. Ectópica - forte suspeita, só não confirmada pelo aparelho do ultra-som, que permanecia quebrado-.
Uma injeção na veia, e as pernas finas levaram-na, zonza, para casa.
Não sabia o que era "ectópica", mas a palavra bonita, sonora, haveria
de ser coisa boa. Ansiosa, queria contar ao marido. Entrou em casa, massageando de leve a barriga ainda murcha. Sorria por fora e por dentro. Bateu de leve, com muito respeito, na porta do quarto, mais uma vez, trancada.
Da cama, o marido, entre os gemidos de um companheiro qualquer, sussurrou:
-Espera, princesa!
Ela esperou, a repetir com emoção: ectópica...ectópica...
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui