Transit (*)
Tu és dona de mim, tu me pertences,
e neste delicioso cativeiro,
não queres crer que, ingrato e bandoleiro,
possa eu noutra pensar, ou noutro penses.
Doce cuidado meu, não te convences
de que tudo na terra é passageiro,
frívolo, fútil, rápido, ligeiro,
e a pertinácia do erro teu não vences!
Num belo dia -- hás de tu ver -- desaba
esta velha afeição, funda e comprida,
que tanta gente nos inveja e gaba...
Choras? Para que lágrimas, querida?
naturalmente o amor também se acaba,
como tudo se acaba nesta vida.
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(*) Artur Azevedo (Artur Nabantino Gonçalves de azevedo, 1855-1908), autor de: "Carapuças"; "Horas Vagas"; "Sonetos"; "Contos em verso"; "Rimas" e outros. |