Canção do Espírito
A minha alma saiu de mim, foi
com o espírito do mar conversar.
Ouviu estórias de assombrar,
E de mitos, que são as chaves
para ao inconsciente chegar.
Cada mito lhe contava os segredos
que guardava. Chegou um que lhe
dizia que o segredo, que escondia
Era simples, transparente.
Pediu-lhe para o divulgar.
Torná-lo de toda a gente.
“Antes de querer o mundo mudar,
É preciso cada um, a si próprio
restaurar”.
Limpar bem a matriz.
Alma grande desfigurada por
sujeira acumulada.
Matriz corrompida ao longo da vida.
O restauro começa nessa limpeza sem
pressa.
Chegou outro mito disposto a conversar
falava de um ser condenado a este mundo
voltar, uma grande pedra carregar até ao
alto da serra. Como chegava molhada,
ensopada de suor, ficava escorregadia,
e morro abaixo descia.
Tantas vezes este ser, condenado a padecer,
este trabalho insano repetia, que um dia
resolveu parar para pensar.
Como não podia voltar, pensou até em se
matar.
Ali perto estava o mar, lindo de pasmar.
Olhou o céu, viu aquele azul a brilhar,
olhou o verde da terra, o esplendor da natureza,
apaixonou-se por tanta beleza.
Entrou no mar, se banhou.
Deitou na relva, rolou.
Veio o sol e o secou.
E a partir daquele dia, nem para a pedra
mais olhou.
Lita Moniz
|