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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 58 -- 22/10/2013 - 17:45 (Edmar Guedes Corrêa****) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 58


ÍNDICE
Capítulo(01) Capítulo(02) Capítulo(03) Capítulo(04) Capítulo(05) Capítulo(06) Capítulo(07) Capítulo(08) Capítulo(09) Capítulo(10) Capítulo(11) Capítulo(12) Capítulo(13) Capítulo(14) Capítulo(15) Capítulo(16) Capítulo(17) Capítulo(18) Capítulo(19) Capítulo(20) Capítulo(21) Capítulo(22) Capítulo(23) Capítulo(24) Capítulo(25) Capítulo(26) Capítulo(27) Capítulo(28) Capítulo(29) Capítulo(30) Capítulo(31) Capítulo(32) Capítulo(33) Capítulo(34) Capítulo(35) Capítulo(36) Capítulo(37) Capítulo(38) Capítulo(39) Capítulo(40) Capítulo(41) Capítulo(42) Capítulo(43) Capítulo(44) Capítulo(45) Capítulo(46) Capítulo(47) Capítulo(48) Capítulo(49) Capítulo(50) Capítulo(51) Capítulo(52) Capítulo(53) Capítulo(54) Capítulo(55) Capítulo(56) Capítulo(57)


Durante seis dias, trabalhamos arduamente nos alicerces do que viria a ser a nossa casa. E aquele instrumento, com o qual fiz uma espécie de machado, permitiu-me cortar árvores pequenas e jovens, das quais fez-se as colunas e os caibros de sustentação do telhado. Foi a parte onde o trabalho foi mais árduo e aonde não pude contar muito com a ajuda das meninas, já que se tratava de um trabalho braçal. Enquanto isso, elas vasculharam a mata a fim de apanhar cipós para as amarras. Os poucos pregos que tínhamos não daria para muita coisa e muitos deles estavam tão velhos e enferrujados que não resistiriam às batidas. Por falar nisso, uma outra chapa de ferro foi encontrada no segundo dia, assim como um pedaço de barco no qual jaziam 4 pregos velhos e dos quais consegui aproveitar dois.
-- Não sei como a gente não encontrou eles antes – disse minha prima.
-- Porque a gente não procurou – disse Marcela. -- Eles já estavam lá quando chegamos aqui. E provavelmente devem haver mais por ai – acrescentou. -- Mais cedo ou mais tarde vamos achar mais.
-- É isso mesmo – concordou Luciana – E com isso aqui – levantou o pedaço de ferro que ela mesmo havia achado – podemos fazer uma faca de verdade.
-- Mas só depois que essa cabana estiver melhor. Por enquanto temos que nos concentrar só nisso – falei. -- Ainda temos muito trabalho por um bom tempo.
Essa conversa deu-se no segundo dia em que se iniciou a reforma da cabana.
Ao longo dos seis dias, não houve brigas, ataques de ciúmes ou coisa parecida. Nada lembrava as semanas anteriores, onde Luciana, tomada pelo ciume, procurava me manter o tempo todo sob seu olhar. O único fato estranho nesses dias foi um mal estar repentino que a levou a rejeitar a inclusive o peixe assado. Não sabíamos o que estava se passando com ela. Nem ela mesma. Acreditávamos que talvez tivesse bebido água de coco estragada ou comido alguma fruta meio verde, a qual causara-lhe a ânsia de vômito e aquele mal estar.
-- No começo, quando chegamos aqui, a gente ficou assim: vomitávamos e tínhamos diarreia – falei. -- Vocês se lembram? Mas depois a gente não passou mais mal. Vai ver que é isso. Talvez tenha sido aquelas goiabas meio verdes que a gente comeu ontem – acrescentei.
-- Mas todos nós comemos e só ela ficou assim – disse Ana Paula.
Estávamos sentados diante da fogueira enquanto a noite se aprofundava lá fora.
-- Talvez foi porque ela ficou vários dias deitada, sem poder se mover e o organismo dela ficou fraco. Ai, as goiabas fizeram mal a ela – supus. Embora não houvesse uma explicação aparente, eu insistia em tentar justificar aquele mal súbito como se inconscientemente quisesse esconder a verdadeira causa, a qual jazia ignorada por todos nós, mas não por muito tempo.
-- Vai ver que é isso mesmo – deixou escapar Marcela. -- Mas se for, amanhã ou depois ela já vai estar melhor.
-- Pode ser – disse Luciana titubeante. -- O estranho é que, quando ficamos assim, também ficamos com diarreia. E agora eu estou cagando normal.
-- Isso é verdade – disse Ana Paula. -- Eu fiquei com uma caganeira danada. E era água pura. E até parecia que ao invés de cagar eu tava era mijando. -- Aquelas palavras inclusive provocaram risadas em todos nós.
Aquele estado de descontração durou por mais algum tempo, até que o sono chegou e quem não tinha de tomar conta da fogueira foi dormir, já que mais cedo ou mais tarde teria de se levantar para assumir o posto do outro e assim sucessivamente até que o dia amanhece.
Embora ainda não fosse uma casa de verdade, aquela construção era bem melhor, mais confortável e mais robusta e resistente do que a velha cabana. Não se tratava mais de um cubículo que mal cabia nós quatro. Faltava ainda fechar as paredes, nas quais já tinham sido usados galhos de árvores trançados e cujas extremidades eram presas aos alicerces com cipó. Mas ainda sim ficavam um buraco ou outro, já que os galhos de árvores tem por característica não serem totalmente retos. Todavia, dada as ferramentas que dispúnhamos e a nossa falta de conhecimento, a cabana, a qual decidimos chamar dali em diante de casa, ficara melhor do que se esperava. As camas ainda não estavam prontas. Apenas uma delas fora construída com o intuito de ser testada. A estrutura assemelhava-se a uma cama de verdade, embora os pés fossem fixos no chão e o estrado não passasse de finos troncos de árvore e sobre os quais, para deixá-la macia e aconchegante, ainda não tínhamos chegado a um consenso, uma vez que Luciana sugerira folhas de bananeiras, Marcela arbustos e só então as folhas de bananeiras e eu sugerira vasculhar a mata a fim de encontrar algo melhor. Assim, com o impasse, a decisão definitiva ficara para depois, para quando todas as possibilidades fossem testadas.
Por duas noites testou-se cada uma das sugestões. Por fim chegou-se a conclusão de que teríamos de procurar outra alternativa, uma vez que as folhas de bananeiras não resistiam por muitos dias e a substituição levaria inevitavelmente à escassez e ao fim das bananeiras, as quais na realidade eram nossa fonte de alimentação. Aliás, foi Marcela quem nos alertou:
-- Se a gente continuar cortando as folhas, as bananeiras não vão dar mais bananas, vão morrer e a gente ter menos opção ainda. Já não temos muito o que comer nesse fim de mundo!
-- Ela está certa -- concordou Luciana, numa das raras vezes em que lhe deu razão. Embora, em muitos casos discordava dela não porque Marcela estivesse errada, mas por puro ciúme.
-- Não podemos destruir nossa fonte de alimentação. Senão a gente vai viver de quê? Peixe e goiaba? Nem disso, porque daqui uns dias as goiabas vão acabar. Elas não dão o ano inteiro – disse Marcela, que nessas horas mostrava todo o seu conhecimento. -- Eu estava até pensando: aqui tem um monte de aves. Por que a gente não mata uma de vez em quando para comer?
-- Mas matar como? -- volvi. -- Elas não deixam nem a gente chegar perto!
-- É mesmo! -- concordou Ana Paula.
-- Ora! É só a gente fazer um arco e flecha.
-- A flecha ainda dá. Mas como a gente vai fazer um arco? A gente não tem corda – insisti.
-- É só usar um cipó.
Como isso não tinha nos ocorrido ainda? Era uma coisa tão simples. Quando nos ocorreu de usar uma lança para pegar peixes, essa mesma sugestão poderia nos ter levado ao arco e a flecha, mas isso nos escapou. Talvez o fato de estarmos preocupados demais com os nossos próprios interesses tenhamos negligenciado o coletivo. E agora que as brigas, as intrigas, as explosões de ciúmes e até mesmo instinto sexual amenizaram-se houve espaço para que as ideias e as sugestões de interesse coletivo viessem à tona.
--Não vai ser nada fácil aprender a acertar esses bichos. Eles são muito rápidos – afirmou Luciana. -- Aposto como vai ser mais difícil do que usar aquela lança para acertar os peixes.
-- Talvez não. É só a gente esperar ele pousar. Ai fica mais fácil – explicou Marcela.
-- Eu vou querer aprender a usar a flecha – disse minha prima.
-- Eu também – exclamou Marcela. -- Você que é homem, aprende primeiro e depois ensina pra gente – acrescentou, dirigindo-se a mim.
Luciana fitou-me com um olhar enfezado. No entanto, não esperei que ela abrisse a boca e desse início a uma discussão.
-- A gente faz um arco e flecha para cada um e aprendemos todos juntos. Assim fica até mas fácil de acertar um desses pássaros. Vocês não acham?
Luciana acalmou-se e a tensão desanuviou-se de sua face. Isso me deu um alívio, porque cheguei a pensar que a paz e a harmonia, a qual vinha durando uma semana, tinham terminado.
-- E quando a gente vai fazer nosso arco e flecha? -- quis saber Ana Paula.
-- Amanhã a gente o tipo de árvore ideal. Não pode ser qualquer uma porque senão ela quebra quando for envergada – disse Marcela. -- A gente pode ir depois de acordar. Que tal?
-- Já que você deu a ideia e entende tanto assim do assunto, vai com a Ana Paula e eu fico com Sílvio pescando. Quero que ele me ensine a pescar. Meu pé já melhorou e agora posso firmar ele no chão. Você vai me ensinar, não vai? -- perguntou Luciana de uma forma que parecia mais uma ordem do que uma pergunta.
-- Vou sim.
-- Eu também quero aprender – declarou Ana Paula.
-- Depois ele te ensina. Primeiro vai ser eu – interveio Luciana.
Vi naquele arranjo uma forma de afastar as duas para longe de nós dois a fim de que ele pudesse ficar as sós comigo. Contudo, eu não tinha saída. Se sugerisse outra coisa e a contrariasse, provavelmente se revoltaria e acabaria descontando em todo mundo, como ela já tinha feito antes. E certamente eu tornaria a viver um inferno em suas mãos.
-- É meninas. Luciana tem razão. E eu também não gosto de entrar nessa mata enquanto vocês duas parecem que adoram. Eu também não sei que tipo de coisa serve parta um arco e flecha. Nunca vi uma na minha vida. Só nos livros e na TV. E a gente também precisa comer. E quem mais sabe pescar além de mim? Ninguém. Só eu. Então? Eu vou pescar, aproveito para ensinar Luciana, e vocês fazem a parte de vocês – falei.
-- Combinado – disse Ana Paula. -- Mas carne de pássaro tem o mesmo gosto que carne de frango? -- perguntou ela por fim.
-- Sei lá – respondi.
-- Não deve ser muito diferente. Afinal ambas são aves – afirmou Marcela.
-- E que diferença faz? Desde que mate a nossa fome – interveio Luciana.
A conversa prolongou até que a noite caiu e então cada um foi procurar o seu canto. Menos Marcela que tinha de tomar conta da fogueira. Antes de pregar os olhos porém, não pude deixar de pensar nela. Ela estava sentada diante da fogueira, tão próxima – eu podia ver seu corpo nu por causa da luz da fogueira -- e no entanto não podia nem mesmo ficar contemplando-a. Vez ou outra eu até fazia, mas de forma que Luciana não percebesse, pois sabia que se esta visse, seria tomada pela desrazão, talvez a reação mais natural nas pessoas possessivas e escravas do ciúme, e fizesse alguma besteira.
Mas se Luciana podia controlar meus olhares, não tinha poder algum sobre meus pensamentos. Então imaginei Marcela e eu correndo para o outro lado da ilha e se deitando na arei, rolando um por cima do outro e se entregando aos beijos, às carícias e finalmente unindo nossos corpos. Via meu corpo deslizando sobre o dela feito as ondas do mar que deslizam sobre a areia naquele ir e vir interminável. Ah, como essa imagem me deleitou! Deixei por várias vezes escapar um sorriso, o qual era ocultado pelo braço, uma vez que Luciana poderia virar-se em minha direção e surpreender-me naquela felicidade. E foi assim que adormeci.


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