Fogoso, este poeta vem dizer Que tem de aqui cumprir o bom dever, Embora não compreenda quase nada. Se o verso que produzo tem um fim, Preciso que o leitor faça de mim A idéia mais precisa, equilibrada.
Não sou, no fim do túnel, a esperança De que o saber na rima já se alcança, Pois a pílula o metro sempre doira. O fato de compor arrevesado, Conforme nesta estrofe eu abrocado, Não é sinal de luz imorredoira.
O que vem sucedendo é, simplesmente, O meu desejo imenso e conseqüente De tudo declarar segundo o mestre, Pois o saber não pode ser simplório, Que as leis me pedem prenhe relatório, Como a ciência trata o ser terrestre.
Analisando bem o meu assunto, Não deves preocupar o teu bestunto Em encontrar primores racionais. As coisas se complicam por si só: Se o homem, quando morre, vira pó, O seu saber irá crescer bem mais.
Juntando este prazer de vir compor Ao tema que coloco ao teu dispor, O resultado anima e me deslumbra. Porém, se tu te encontras sem caminho, Pensando que o poeta é pobrezinho, Acende a luz e sai já da penumbra.
A gente quer que tudo esteja à mão, Sem suspeitar que os outros crescerão, Por terem devotado a vida à luz.; Mas, antes de fazer só caridade, A sua inteligência o mal invade, Para entender melhor a sua cruz.
Não foi Jesus quem disse que os melhores Iriam perceber os pormenores De seu ensino em forma misteriosa? Não criticou também a sua gente, Que tudo perguntava ingenuamente, Jamais dando resposta à sua glosa?
O mesmo irá sentir o meu amigo Ao prosseguir na trova aqui comigo, Embora seja menos problemática. Mas, ao fazer as contas deste ensino, Jamais irás dizer que discrimino Quem nunca se afinou coa matemática.
Senhor, aceita o forte sentimento De simpatia e amor, pois me contento Em vir ditar uns versos com sentido. Se longe da beleza paira a rima, Salpica pela trova a tua estima, Dizendo ao meu leitor que não duvido. (Autor espiritual:Pedro.)
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