Bahia do século XVII (*)
(Gregório de Matos Guerra [GMG] descreve o que era realmente, naquele tempo, a cidade da Bahia), que hoje, passados alguns séculos, está um pouco pior.
Soneto (**)
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha.
Não sabem governar sua cozinha
E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um frequentado olheiro,
Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para a levar à praça e ao terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados
Trazidos pelos pés por homens nobres
Postam nas palmas toda a picardia.
Estupendas usuras nos mercados,
Todos os que não furtam, muitos pobres.
E eis aqui a cidade da Bahia.
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(*) Pus o título "Bahia do século XVII", uma vez que esses versos de GMG indicam apenas "Soneto". Ajustei, também, a pontuação e procedi a alguns acertos necessários para compreender o conteúdo.
(**) SILVEIRA, Francisco Maciel. "Poesias Selecionadas de Gregório de Matos" [Coleção Grandes Leituras], 3ª edição, São Paulo, FTD, 1998, p. 104.
Nota: Francisco Maciel Silveira, poeta, crítico, ensaísta, professor associado do Depatamento de Letras Clássicas e Vernáculas da USP (opus cit., p. 15).
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