Eurípedes no Final do Século V
Eurípedes, perto de Atenas nascido,
E já no século V, poeta mal compreendido.
Onde se viu pôr em cena pobre gente a
rastejar, e comparar o seu pensar à nobreza
do lugar.
Vejam só que atrevimento mostrar a guerra
tal qual era.
Dizer que a religião se desviou da missão.
Dá suporte, exalta nobres e seus feitos, nem
que sejam de cortar o coração.
Põe quem trabalha no palco, que falta de educação!
Poeta dos excluídos, dos escravos, das mulheres,
dos velhos a apodrecer, passando fome, frio e
sede, sem ninguém para lhes valer.
Era mesmo entre os maiores um poeta marginal.
Vejam Eurípedes a dizer no final do século V
que o poder constituído era assim distribuído.
Primeiro, os ricos, cidadãos inúteis, ocupados
em aumentar sua fortuna.
Depois pobres privados do necessário.
Em meio a tanta privação, iam perdendo a razão.
Tornavam-se perigosos, dados à inveja, seduzidos
pelos discursos perversos dos demagogos.
Assaltavam os possidentes.
Possidentes eram então a classe que trabalhava,
da terra tirava o pão.
Preservavam as instituições, cultuavam tradições,
Davam suporte à nação. Dedicavam-se ao trabalho.
Deixavam o supérfluo de lado, iam atrás do necessário.
Se fosse hoje diria: agora sei porque lá no século V
compreendiam meus textos poucos ou nenhum.
É porque andava a escrever para o século vinte e um
Lita Moniz
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