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Cronicas-->CARP DIEN -- 04/04/2006 - 08:53 (Ricardo Barreto Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos








Estou com sessenta e três anos de idade. Tenho, no máximo, mais vinte anos de vida saudável pela frente. Quê fazer para aproveitar, da melhor maneira possível, esses poucos anos de vida que me restam?

Não quero ficar um velho inválido, dependendo das outras pessoas para desempenhar as tarefas mínimas, como me deslocar de um lugar para o outro ou ir ao banheiro. Gostaria de morrer de posse de minhas faculdades físicas e mentais.

Não consegui realizar nada de significativo durante a minha vida, não deixei marcas nem consegui descobrir a finalidade da vida.

Não conseguirei ver o homem desembarcando em outros planetas nem paz e justiça social na terra.

Só terá valido a pena viver se alguém sentir a minha falta quando eu partir, mas ninguém faz mais falta hoje em dia.

Voltando ao assunto principal, somos tolhidos pelas nossas limitações. Gastamos a maior parte das nossas energias lutando contra doenças causadas pelo envelhecimento das nossas células.

A máquina está desgastada, não responde da mesma maneira como há vinte anos.

As pessoas já não nos olham como antigamente. Não passamos de um monte de rugas, pele flácida e andar lento e cambaleante.

A experiência acumulada não serve para nada. Nada temos para ensinar aos jovens. Fracassamos na nossa obrigação de construir um mundo mais justo e seguro para eles. Eles têm razão em nos desprezar.

Passo a maior parte do tempo trancado no apartamento, lendo jornal, navegando na Internet e assistindo TV. As notícias que mais despertam a minha atenção são aquelas sobre violência e desastres naturais. Grandes acidentes também me provocam um prazer mórbido. Será porque essas notícias me fazem pensar que devo agradecer por não estar acontecendo comigo?

Vinte anos para fazer o quê?

Vinte anos, ainda há tempo para aprender inglês ou francês e conhecer a Grécia, Itália e França.

Para quê?

Não vou conseguir fazer amigos em outros países. A desconfiança e a xenofobia aumentam a cada dia. Não somos bem recebidos em nenhum desses lugares.

O sexo, leit motiv da minha vida, cada dia mais espaçado.

Carpe dien, como?

O que mais me dá alegria atualmente é a presença de Yone.

Isto que estou escrevendo não significa que a minha vida não está boa, não tenho do que me queixar. Acontece que desde o ano passado estou pensando bastante na morte. Preciso preparar-me para ela, agora que está mais próxima do que distante.

Escapei de morrer diversas vezes. Acredito que fui poupado por alguma razão. Tanta gente que morre nas mesmas circunstâncias e eu não morri.

Capotei com o carro, nadei em águas profundas onde se descobriu depois a existência de tubarões, fiquei sob a mira de revolver num assalto. Acidentes de trem, ônibus, avião, desabamento de prédio, enchentes, raios. Nada disso me atingiu, sou um sobrevivente.

O que vou fazer com esses vinte anos que me restam?

Para que tanta informação na cabeça se não tenho a quem transmitir e tudo vai se apagar quando eu morrer?

Não consigo ver nenhuma diferença fundamental entre mim e outro animal qualquer.

Que espécie mais evoluída surgirá a partir do homem?



Recife, 04/01/06.


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