Sem título (soneto) *
Vi passar, num corcel, a toda a brida,
Nuvem de poeira erguendo pela estrada
Um gigante, impassível como o Nada,
Indiferente a tudo -- à morte e à vida!
Tão bela como a Bela Adormecida,
Tinha nos braços uma loura fada:
Lindos cabelos de ilusão dourada,
Pálidas faces de ilusão perdida.
Assombrado, gritei para o gigante:
-- "Quem és tu? Essa deusa é tua amante?"
E o cavaleiro, o Tempo, respondeu:
-- "Eu sou tudo e sou nada nos espaços,
E esta Mulher que levo nos meus braços
É a tua Mocidade que morreu."
(Júlio Salusse)
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(*) Recebido, por e-mail, em 27/12/2002, de apreciador do poeta Júlio Salusse. |