Sabendo do quanto o povo anda sofrido com
a onda de violência que hoje assola a cidade,
resolvi recordar o bom tempo, quando Campinas
apenas era um lindo e tranqüilo recanto, onde
os sustos tão-só advinham dos populares que
pelas ruas espalhados, tentavam angariar
um carinho, um gesto amigo, um simples ó
- ao invés do nosso oi, o campineiro diz: ó!-.
Voltando à época, escrevi ao poeminha Mane Ó,
homenagem à figura conhecida, que insistia
em ser cumprimentada por todos, talvez,
pressentindo que chegaria o dia, em que não
mais se poderia olhar nos olhos dos semelhantes.
Mane Ó, assim chamado, achegava-se, tentando
um cumprimento, um sorriso -talvez - e para tal
dizia repetidamente: fala ó, fala ó - e se,
não atendido, continuava mendigando: fala ó,
fala ó-.
Conheci-o na adolescência, em férias passadas
na bela Campinas.
Ah, Campinas, Campinas, que pena...
Mané Ó
Maria da Graça Almeida
É, meu bom Mané,
o “ó” andava
mais que o pé!
Oh! Aquele “ó”,
era a carência
do homem só!
É, velho Mané,
o ó trazia
calor e fé.
Oh! Aquele “ó”,
doce cadência
que virou pó!
Maria da Graça Almeida/ SP
publicado na revista FRESTA
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