Caro Soares,
Meu nome deveria ser Maria da Insistência
ou do Perseverar,porém sem graça ou com,
nomearam-me Maria da Graça.
Não poderia, eu, decepcionar meus pais que
apostaram em alguma modalidade da graça.
Fico a cismar: qual?
Até hoje não descobri e, por cima, para a
tristeza de minha adolescência,em meu nome,
do qual já não via graça nenhuma, acrescentaram
Lunalva.
Lua alva - diziam orgulhosos.
Aí é que me veio a responsabilidade:o que uma lua
alva poderia ser se não, um poeta?
Ainda que falar da lua seja fácil demais,
qualquer poeta o faz, o difícil é falar dela,
sentada numa cadeira, a arfar em bronquite.
- A lua arfando em bronquite?
- Não! Eu! Por ela dominada!
Mas venci o desafio, também a bronquite.
Respirei tão livremente, que a ofegar e
resfolegar só ficaram os ventos fortes
das claras madrugadas da fazenda onde nasci
- interior do São Paulo- numa noite de lua cheia,
lua que, já naquela época, andava cheia da
mesmice do lugar.
Ela, sim, não eu. Continuo com o mesmo descarado
prazer pelo sempre igual.
Hoje, quando de minha janela, espio o céu enrugado,
oferecendo-se à metrópole poluída, imagino
quão envelhecida estará a lua.
Não mais a vejo, tampouco lhe sinto a falta
e afinal quem precisa dela para fazer poesia,
depois que o homem, calcou-lhe a grosseria
de suas botas?
Agora escrevo para quem meus olhos se derretem.
Falo com as crianças, em verso e prosa.
Soares, encanta-me sua poesia, por isso
a questão de estar perto.
Freqüento o Jornal, rastreando as andanças
das almas alheias.Mais que o de fora, importa
o de dentro. Máxima improvável, para mim,
verdadeira.
Um grande abraço
Maria da Graça Almeida
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