Joguei fora, perdi a memória,
como um ato bravo, heróico,
abri mão do passado feliz
e dele fiz histórico.
Num correr de mãos
e teclas digitadas,
dei cabo das correntes
que à pouco era amarrada.
O preço foi muito alto,
sabia que assim seria,
como morte anunciada,
dos escritos me desfaria.
E dessa forma se foram,
de forma firme, decidida,
como quem joga um rascunho
na brasa que crepita.
O que guardei logo esqueço,
pois na vida se amontoa
palavras de tantas bocas
que muitos falam à toa.
Hoje, mais consciente,
da verdade e da mentira,
vejo em todos os peitos
menos amor e mais ira.
No grande e pequeno detalhe,
na meia palavra ou no gesto,
se conhece um homem de bem
ou um canalha manifesto.
Pois quem sabe definir
foi quem passou maus bocados,
nas mãos dos levianos,
por esse mundo espalhados.
Valentina Fraga
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