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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->Redenção! -- 24/07/2016 - 12:17 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


"Amélia, você se lembra de D. Julieta, aquela amiga da vovó?"

"Uma que tinha bigode? Lembro sim!"

“Certa vez ela veio visitar a vovó. Estávamos todos a roda da mesa, saboreando aqueles lanches deliciosos da tarde. Uma porção de biscoitos, bolo de fubá, suco de taperebá, pão de queijo, geleia de amora... aquele exagero que só vovó tinha.

“Humm!”

De repente, D.Julieta virou pra ela, muito séria, e falou torcendo o tal bigode ralo:

"Você sabe, o quanto sou franca! Vou perguntar na lata o que penso! Que ideia foi essa do seu filho colocar esses nomes nessas meninas? Não tem juízo? Amélia e Camélia, onde já se viu!"

"Mas são lindos nomes, acho até porque rimam. Ele adora poesia!" Respondeu vovó sem esconder uma ponta de constrangimento.

"Mas ele não pensou no tamanho do significado que carregam?"

"Não to te entendendo"...

"Então explico: O nome Amélia, depois da música daquele ator Mário Lago virou sinônimo de mulher submissa, dona de casa, sem vontade própria. Uma pobre-coitada mesmo! Já Camélia, o inverso.” Ajeitou-se na cadeira de balanço de macarrão azul, colocou a xícara de café na mesa, fez pose de sabichona e continuou.

“Camélia é nome de flor perfumosa e incomum. De tão usada nas lapelas masculinas, passando de mão em mão, que as mulheres da vida passaram a ser chamadas camélias"!

"Não tinha pensado nisso”. Pobrezinhas das minhas netas, carregar tamanho fardo nos nomes, tão pequeninas ainda...” Murmurou vovó sem armas para defender as netas da língua da vizinha.

Naquele dia não entendi bem aquilo tudo, mas com o passar do tempo, sempre que via D. Julieta eu me lembrava daquela conversa. Anos depois entendi o significado. Ontem a vi, atravessando a rua de braço com o neto mais novo. Lembrei disso! “Sabe por que lembrei? Ele se chama Alírio.”

Agora que estamos crescidas acho que papai se enganou mesmo.

"Como assim, concorda com essa doidice?"

"Claro que não Amélia, eu só acho que ele deveria ter colocado nossos nomes trocados. Você é mais atirada, mais dona do próprio nariz, não leva desaforo pra casa... não tem nada de submissa. Eu, romance a flor da pele! Buscando fundo musical romântico pra hora do beijo, uma estrofe ao apagar da luz e que todo o resto seja uma poesia..."

Quantas decepções amorosas em função deste romantismo que leva as raias da cegueira! Paixões que se assemelham a estopins acessos serpenteando sem direção. Chamas que só se apagam quando alcançam o infinito e explodem meu coração! E lá vou eu catar meus caquinhos, colar, sem conseguir restaurar por completo os remendos da alma!
Se eu me chamasse Amélia, acho que não me identificaria só com a frase da música "Não tinha a maior vaidade", porque ao invés de cegueira seria "raias da loucura" mesmo! Afinal de contas mulher sem vaidade não segura homem nenhum! É próprio da natureza masculina comer primeiro com os olhos. A mulher cabe dosar o tempero que dará aroma e sabor ao banquete de prazer que ela deseja!

Essa conversa revirou sua memória, lembrou da primeira vez que mergulhou de cabeça numa paixão, lembrou do Zé, de como tudo se deu e no que deu.

Os detalhes, os codinomes, as poesias, a decepção!

"Minha Lua"... "Meu Rio". Ele a chamava de lua por causa da brancura da pele. Ela, de rio, por conta da cicatriz sinuosa que ele trazia em sua coxa direita.

Olhos úmidos, coração ainda em recuperação, rende-se a emoção. Apanha sua velha caderneta de papel, coloca ali mais uma de suas historias:

Rios surgem de pequenas vertentes silenciosas, tímidas, cristalinas....
Vão rebuscando caminhos, vagando pelo chão, qual serpente irrequieta, em infinita busca da presa.
À medida que segue, incorpora em si outras águas, fortifica-se, encoraja-se a ponto de ser capaz de lançar-se em vertiginoso mergulho em abismos inomináveis, apenas para que, em um fugaz instante possa ser chamado cachoeira!
Continua incessante busca, atravessa vales, abre cânions, rompe obstáculos quase intransponíveis!
Em sua inconstância, busca novas paisagens.
Ah! A força das águas....
Nem sequer as seguramos com duas mãos cerradas, quanto mais tentamos prendê-las mais nos escapam fugidias.
Que dizer então dos caudais?
Será coincidência que vertem nascentes dos olhos quando a alma transborda em sentimentos?
Na busca segue desenfreado, adquirindo a mansuetude da maturidade.
Nem assim menos caudaloso.
Descobre-se a busca do mar. Destino incontestável das águas do mundo....
Alcança!
Ao vê-lo compreende. No átimo do mergulho mistura- se à mesma essência...
Repentinamente percebe que as águas anseiam alcançar a Lua, que lhes sorri no espelho, a qual, ao se ver refletida radiante, parte a correr o universo em busca de sol!
Percebe-se neste instante a Lua, a despir-se de seus temores inconfessos.
Rendem-se à sagacidade do destino, milenar mestre em pregar peças...
A Lua e o Rio se encontrarão? Ela percorre o universo. Ele, a terra!

Fecha a caderneta, seca os olhos, adoraria poder arrancar dos seus pensamentos, paixões, desencontros, a inconstância de um tal Zé! Pensou num título para o texto, pensou no que mais desejava para si! Poderia chama-lo: Inconstância? Saudade? Desencanto? Como num sussurro o vento murmurou... Redenção!






Colaboração: Ângela Fakir e Jeanne Martins
Desenho: Ângela Fakir
http://riscoserabiscosangelafakir.blogspot.com.br/

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