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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->Dá pra ser feliz -- 30/07/2016 - 10:34 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

“Mãe, sabe o prefeito José Amarílis? Foi preso!”

“Amélia de Deus, o que ele fez?”

“Dizem que roubou dinheiro da prefeitura. Saiu algemado e o tudo mais.”

Papai foi entrando na sala e vociferou:

“Tomara que apodreça lá. Ele e o secretário, cambada de ladrão! Vocês se lembram do dia que vieram aqui em casa pedir voto? Convidamos os vizinhos, fizemos café e chá com bolo. Colamos a foto dele na nossa porta. Prometeu endireitar a escola, asfaltar a rua, botar mais postes na rua, combater a corrupção... Não fez nada!”
Papai estava decepcionado, falava com rispidez, brabo mesmo. Ele nunca fora de tomar simpatia pelos políticos da cidade, mas nas últimas eleições ele assistiu a todos os programas eleitorais na televisão, discutia com a gente o que achava certo ou errado.
Camélia chegou em seguida.

“Liguem a televisão, tá passando o José Amarílis.”
A reportagem mostrava o prefeito algemado sendo enfiado no camburão da polícia. Mostrou a mulher e os filhos chorando. Foi aí que papai comentou:

“Olha o resultado da irresponsabilidade desse ladrão. Embolsa o dinheiro pensando que vai se dar bem e deixa a família nesse desespero. Agora serão vistos como a família do prefeito ladrão. No fundo no fundo quem sofre mesmo é a família. Sempre que vejo um político sendo preso fico com pena da esposa e dos filhos.”
Jacinto chegou a noite com a cara amarrada. Nunca vi meu irmão assim. Tentei puxar conversa, desconversou. Sentou-se, jantou. Mainha se aproximou, alisou-lhe os cabelos, achou o início da prosa.

“Filho, se você não disser o que está acontecendo vamos todos ficar preocupados.”

“Fui despedido da empresa. Seu Carlos disse que com a inflação e o desemprego na cidade as pessoas não estão saindo pra se divertir. Ficam em casa para economizar.”

A voz saiu pausada, travada, embargada. Nem levantou a cabeça tamanha era a tristeza.

"Calma meu filho, tudo se ajeita!"

Jacinto acomodou a cabeça no colo de Mainha, ela enfiou os dedos na cabeleira dele, como fazia desde que era menino. Ele fechou os olhos... Veio o filme!

A empresa era o cinema da cidade, trabalhava lá desde garoto.
Um desses cinemas antigos, que chamamos de cineteatro. Entra-se por cima, com duas rampas laterais e uma no meio. Lindas arandelas antigas coloridas que imprimem uma iluminação especial meio amarelada que lembra as tardes de outono, meio penumbra furta-cor de um romantismo encantador. Dizem que na penumbra os sentidos ficam mais aguçados. Talvez por isso muitos casais comecem a namorar no cinema.

Caixinhas de som espalhadas no alto faziam tudo tremer quando o filme começava!

Lá embaixo o palco do teatro. Arredondado em meia lua, velado por grossas cortinas vermelhas. Elevava-se acima do piso da primeira fileira de cadeiras vermelho-bordô, cujos assentos dobravam-se ao nos levantarmos.

Nunca tinha ido ao cinema. Jamais esqueceu a emoção da primeira vez que entrou lá! Quando soou a sineta pela terceira vez, as luzes se apagaram, o projetor começou a rodar com aquele barulhinho suave e monótono, e repentinamente as cortinas começaram a se mover, abrindo-se devagarinho como por mágica...

Como esquecer aquela emoção? A imensa tela branca amarelada pelo tempo a mostra... Gigante! A imagem daquele leão em preto e branco, rugindo tão perto... Tão ensurdecedor!
Quanto tempo, quantas histórias...

Começou como ‘lanterninha’. Anos de trabalho duro e dedicação, passando por tantas funções, conhecendo tudo de projeção, de som, de iluminação, de filmes.... Até chegar a gerente.

Seu primeiro beijo, foi lá no cinema. Na sua folga podia entrar de graça e levar um acompanhante... A primeira menina que convidou foi Rosinha, uma flor ainda em formação... Uma rosa tão delicada quanto a flor de laranjeira.... Cabelos negros como as jabuticabas do nosso quintal... Olhos de querer se afogar dentro deles. Foram vários filmes até que venceu a timidez e teve coragem de segurar a mão dela bem na hora que o mocinho levou um tiro. Ela o deixou confiante!

No filme seguinte, passou a mão por traz da cadeira, colocou dois dedos no ombro dela... Trêmulos! Acomodou a cabeça dela no seu ombro, bem devagar e ela lhe respondeu com um sorriso do tamanho do seu cabelo negro! Foi a senha para o beijo. Bastou esperar a cena romântica que se seguiu.... do filme e a deles!

Mas Rosinha saiu de cena assim como os filmes que saem de cartaz.... Alguns sem sucesso, outros encheram a bilheteria, trouxeram emoções... Alguns inesquecíveis!

O filme passando lento, rodando no projetor ultrapassado, agora era o filme da vida...

Assistindo a cena de desalento da família Amélia comentou que o prefeito e Jacinto estão sem trabalho. E completou:

“Irmão, você é honesto, tem ficha limpa e pode arranjar outro emprego em poucos dias. Você é um guerreiro. Vou conversar com meu gerente no hotel. Quanto ao prefeito, espero que esta cidade nunca mais vote nele. Que tenha perdido seu emprego para sempre.

Camélia sentou-se no colo do pai, enlaçou-lhe o pescoço e cantarolou Gonzaguinha:

“Um homem também chora
Menina morena
Também deseja colo
Palavras amenas
Precisa de carinho
Precisa de ternura
Precisa de um abraço
Da própria candura
Guerreiros são pessoas
São fortes, são frágeis
Guerreiros são meninos...

...Seu sonho é sua vida
E vida é trabalho
E sem o seu trabalho
O homem não tem honra
E sem a sua honra
Se morre, se mata
Não dá pra ser feliz...”.















Colaboração: Ângela Fakir e Jeanne Martins
Desenho: Ângela Fakir
http://riscoserabiscosangelafakir.blogspot.com.br/
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