Palco
maria da graça almeida
O suspiro inda é criança.
A alma flutua dourada,
apressa-me o coração.
Na tez, hirta, molhada,
uma gota disfarçada
traduz-me o afã, a emoção.
Por um feliz momento
a arte em mim arde,
renova meus sentimentos.
Não indicia velhos rumos,
não conduz a antigas direções.
No teatro tudo é magia!
As cores, o som, a alegria
são formas de sedução,
porém, no dia-a-dia
não há lugar para a euforia
tampouco motivo ou espaço
para novas sensações.
A fantasia acelera a ampulheta.
Um aceno, um adeus, já é hora.
As cortinas então se fecham
as luzes do palco, lentas, apagam-se...
Mais um suspiro, o derradeiro.
Despede-se um belo sonho,
que não persistirá nem na maciez
dos meus travesseiros.
E o espetáculo chega ao fim.
A magia não mais se sustenta.
Só, fria, a realidade, enfim,
é quem ali se apresenta.
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