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Contos-->Sucessos e Fracassos -- 23/07/2010 - 09:22 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Nunca pensei no sucesso. Na verdade, sempre achei o sucesso uma aberração, um luxo desnecessário. O sucesso parte de dentro, o fracasso faz parte da mesma liga, ambos corolários de uma mesma destinação. Eu nunca tive sucesso com as mulheres, sempre me acharam um fracassado, vida real oras. No entanto, fracassos à parte, tive sucessos memoráveis, escabrosos, sucessos medonhos. Também tive fracassos maravilhosos, dourados e suaves. Tudo é uma questão de referências, as palavras são eivadas de significados ocultos e belos, porém nem sempre o que uma significa dá oposta designação à outra.

Agora que estamos aqui, pensando pendurados pela roda do carro que derrapou, eu fumo um cigarro dos baratos, porque os de filtro fino me enojam. Sabor, tem de ser de pura linhagem. É como o vinho: Você degustaria um vinho de linhagem suspeita, algo que deixa uma borra, uma uva que cresceu em terrenos ressequidos? Não. Prefiro os sabores fortes, as emoções insuspeitas, o coração que bate suspenso por um fio, a roda ainda girando depois da freada na beira do precipício. A pedra que escorrega e se ouve, ao fundo, seu impacto nas rochas dilatadas pelo calor da tarde silenciosa, lá embaixo.

Nunca pensei no fracasso, sempre me imaginei um pouco melhor do que sou ou do que poderia ser, faz parte de minha estrutura emocional. Ainda me lembro da última vez que fui tachado de um homem de sorte. Foi da última vez que a ví e saboreei com ela um prato de raro sabor, num quarto perfumado por ervas de doce aroma, as velas ainda acesas. Quem soube disse:

--Sucesso! És um cara de sorte.

Foi a última vez que eu ouvi isto. Teve que depois ela me achou um chato, um fracassado e desistiu de me dar o que melhor ela tinha dela. Seu companheiro, de olhos tristes, dizia com o olhar que sabia de nós e sabia que um dia, estaria à borda de um barranco, como eu faço agora, depois de tanto abandono e hesitação. Ele se foi antes de mim, não sem antes deixar uma longa carta de despedida, dizendo-se um qualquer, sem qualificação. Foi-se sem deixar rastro, presumindo-se que se atirou de chofre num rio de largo leito. Eu hesito, e fumo o cigarro estoura-peito agora, sorvendo a luxúria do tabaco, imaginando-me um turco sugando um narguilé em uma comunhão de vícios com meus companheiros.

Mais um seixo se vai e balança o carro, dependendo de mim seu movimento, as marcas do pneu na estrada esquecida pelos deuses federais. Nenhuma luz, nenhum socorro, ninguém que passa se comove. Certamente normal, ver um carro pendurado. Deve ser abandonado por um qualquer sem dinheiro para revisão, daí cachorro sem dono à míngua. Também pode ser uma morada de bandidos, que gostam de viver sob risco, sem teto. Eu hein! Estoura a rocha dilatada, respinga a gota de meu suor no precipício, guincha um falcão espantado com a visão da rapina prometida.

Acaba o cigarro, termina a paciência.

Inclino o corpo para a frente.Não se chuta cachorro morto! Porém, de uma vez só, sem remorso, empurro o monte de lata ao abismo. Jogo a guimba do cigarro barato e viro meu corpo ao ouvir o estrondo de aço e vidro lá embaixo.

O silêncio que se segue só se quebra com meus passos compassados e satisfeitos.
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