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Contos-->Casulo de Prata -- 19/09/2011 - 19:00 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sou zoólogo, tenho observado a fluência da vida em suas múltiplas formas; descrevi miríades de espécies e testemunhei o desaparecimento de outras tantas, isso em pouco tempo, nas últimas décadas. O aquecimento global fez com que zonas inteiras da Costa Indiana submergissem. Muitas florestas tropicais foram sacrificadas em nome do progresso. Rios assoreados na China, em detrimento da Natureza, a um ritmo inaudito de desenvolvimento. Sim, a China se tornou uma potência mundial, ditando políticas desenvolvimentistas e cerceando a liberdade de comércio graças ao endividamento progressivo da Europa e dos USA.

Quando demos o alerta, todos se preocuparam e alguns temeram que pudesse já ser tarde demais. Nosso aviso nada tinha de tardio, pois que há cerca de vinte e cinco anos observamos a devastação da Floresta Amazônica no Brasil. No entanto a Natureza é esperta. Ela coloca sementes de novos caminhos onde antes havia destruição. Começamos a observar então, em meio aos desertos de Gobi, novas espécies de aranhas gigantes, capazes de engolir pequenos ratos e alguns gatos menores. Na Austrália, há um vale cercado por um cordão de isolamento. É proibido agora construir perto dali, pois as casas estavam invadindo o habitat de cobras venenosíssimas que agora procriam livremente, sendo eliminadas por hordas de lagartos imunes a elas, cada vez maiores e mais agressivos. Observamos o surgimento de diversas novas espécies de golfinhos, alguns deles com inteligência fora do normal (chegamos a observar uma formação desses mamíferos marinhos acompanhando manobras militares no Golfo Pérsico...).

No entanto, a comunicação de uma cidade interiorana nos encheu de espanto. Uma dona de casa prestimosa havia guardado um espécime de uma lagarta. Até aí tudo bem. O que chamara a atenção dela inicialmente, de seu marido depois e de uma parcela de biólogos estudiosos da evolução fora a sua forma. Não era uma lagarta, era um casulo. O casulo apresentava pequenas patas articuladas, e um par de olhos fitava o exterior; dentro do casulo, que apresentava cor prateada, havia um ser vivo que reagia à luz ativamente. O espécime fora colocado em meio a uma folhagem e em menos de uma semana, dobrara de tamanho. Como ficasse assustada, a dona de casa levara o casulo a um centro de pesquisa. Os biólogos tentaram analisar o pequeno animal. Notaram então a extrema dureza do casulo, com o cuidado de não molestarem o pequeno ser ali dentro. Por espectrofotometria eles determinaram a constituição da capa do casulo. Metal, um tipo de metal raro. Nióbio. Que estrutura biológica poderia fabricar uma capa daquele tipo?

Quando divulgaram a imagem do casulo novo nos jornais, anunciando uma espécie nova, começaram a aparecer novos relatos de achados similares no planeta. Relatos esporádicos davam conta de dois espécimes nos vinhedos da França. Argentinos os viram em grande quantidade perto de vinhedos de uvas chilenas e na Espanha, além de Portugal, havia campos inteiros habitados pelos pequenos seres prateados. Os camponeses portugueses, sempre místicos e suspersticiosos, juravam que, à noite, numa determinada hora, eles podiam ouvir uma espécie de zumbido. Na Índia, confundiram certo zunido com o som mântrico emitido por Ashrams, para na verdade depois de certo tempo, chegar à conclusão que os pequenos casulos é que vibravam em uníssono, emitindo pequenas fagulhas de luminosidade alaranjada. Muitos indianos os chamavam de “Casulos de Rama”, convencidos de que seus parentes mais nobres ali estavam, esperando o momento certo de eclodirem para transformar a Terra num habitat mais adequado.

A dona de casa preocupada relatou aos pesquisadores que achara minúsculos ovos postos nas folhas da plantação de alface. Os ovos rebrilhavam e ela de noite, na solidão de seu sítio, podia ouvir a música harmônica de tantos e quantos seres semelhantes, misturado aos sons dos grilos, aos pipilos de pássaros noturnos e aos arrulhos dos pombos em seus ninhos e das corujas vigilantes. Mais de uma vez se sentira observada. Ela, que vivia só naquela linda casa (desde que se fora seu marido em um episódio ainda não explicado) agora pedira a uma de suas filhas que ficasse com ela certos dias da semana.

Novos relatos foram se sucedendo. Golfinhos que pareciam amestrados sabotaram várias missões de barcos no Oriente Médio. Um relato amedrontador veio da Rússia, onde ursos haviam atacado um vilarejo, sumindo com o estoque de comida de todo o povoado. Na França, vinhedos foram reduzidos a galhos secos, pondo em risco e produção de champanha, enquanto cabras e vacas deixavam de dar leite aos fazendeiros produtores de queijo. Nunca mais se acharam trufas nos campos franceses; por outro lado, alguém ouvira um farfalhar de asas nas cavernas africanas onde se supunham existir morcegos vampiros, para num vislumbre se verem lindas asas prateadas de seres que pareciam anjos, segundo uma tribo nômade local. Eles os chamaram de “Sombras de luz da Lua”, para tentar uma tradução aproximada.

Uma missão da nova Estação Orbital Chinesa observou reflexos misteriosos numa ilha do Caribe, para depois determinar que o brilho fora refletido por milhares de espelhos minúsculos que se achavam em terra, num sinuoso movimento ondular. Os americanos detectaram então uma estranha freqüência em seus imensos radiotelescópios; uma espécie de zumbido cósmico de fundo pulsava em ritmo crescente. As televisões do meio oeste americano deixaram de transmitir certos canais de cunho banal. Mais tarde, programas foram interrompidos por estática originada em terra.

Na África, perdeu-se o contato com diversos povoados. Na China profunda, onde ainda jaziam estertorantes campos e árvores milenares, povoados relatavam revoadas de asas prateadas.

O comércio de vinhos explodiu em preços pela destruição de vinhedos franceses, chilenos e argentinos... Já se negociava azeite a preço de ouro... A produção de álcool se tornou escassa pela praga de estranhos seres que comiam os brotos de cana-de-açúcar...

Num silêncio ensurdecedor, nos campos das cidades do Interior do Mundo, vicejava agora uma espécie nova de anjos luminosos... Eles cobravam sua presença no mundo em ruínas.

Foi então que as televisões se calaram.
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