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Contos-->NICOLAS -- 15/11/2011 - 14:00 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

NICOLAS
Conto de João Ferreira
Novembro de 2011

Nicolas era um goiano do interior. Viera trabalhar para o Distrito Federal e conseguiu encontrar seu primeiro emprego numa madeireira em Valparaíso na frontaeira entre o Estado de Goiás e o Distrito Federal, a poucos quilômetos de Brasília. Era um bom empregado. Sabia atender os clientes e o patrão começou a considerá-lo como um empregado com futuro na empresa. Valparaíso é uma das principais cidades do entorno de Brasília. Praticamente uma cidade dormitório habitada por todo o tipo de migrantes. A maior parte da população é goiana. Mas tem muita gente mineira, nordestina, paulista e até gaúcha. Trata-se de uma cidade que se formou com o boom de desenvolvimento da região centro-oeste em razão da proximidade com Brasília que lhe garante pequenos empregos tanto para operários de construção, como para frentistas em postos de gasolina, para pequenos empregados comerciários e de limpeza urbana, como ainda para diaristas, empregadas domésticas e trabalhadores rurais.
Nicolas se adaptou à vida da cidade onde conseguiu seu primeiro emprego. De dia trabalhava com muita aplicação ao seu trabalho de frentista e a partir das 19 horas ia para sua casa. Morava num quarto alugado nos fundos de um barraco de propriedade de um conterrâneo seu. Sua vida era tranqüila e foi ganhando conhecimentos entre colegas de trabalho e garotas da cidade. Começou a sair nos fins de semana e foi num desses dias num botequim onde tomava um chopp com amigos que viu Susana pela primeira vez acompanhada nesse dia por duas amigas ali da cidade. Depois de uma bem disposta saudação, os dois grupos resolveram juntar as mesas e iniciaram um papo legal. Daquele encontro saiu uma simpatia e um interesse por Susana. Algum tempo depois eram já namorados e pareciam dois pombinhos quando saiam à rua.
Nicolas tinha como estudos apenas o ensino básico. Escrevia e falava bem,e era despachado. Em pouco tempo, pela falta de opções na cidade de Valparaíso, tomou contato com adeptos de uma igreja que passou a freqüentar com Susana. Ouvia as prédicas do pastor e participava da leitura da Bíblia com os demais crentes. Aos seus ouvidos era martelada frequentemente a frase de que Jesus salva. Não entendia isso muito bem mas como crente sua disposição era aceitar tudo o que entendia e também o que não entendia, para mais tarde se esclarecer a respeito. Era assim o comportamento dele e do grupo. A verdade é que no ambiente em que vivia tinha poucos eixos para se movimentar. De um lado, a madeireira, onde trabalhava. De outro, a igreja, a comunidade dos crentes e Susana. Tinha muita vontade de continuar os estudos. Tinha ambições. Queria ser mais do que um vendedor empregado numa madeireira. Queria crescer, saber mais, ser doutor. Não sabia ainda como, mas queria. E foi por este sentimento próprio que se guiou. De Brasília veio uma oferta para novo emprego. Desta vez, num posto de gasolina do Plano Piloto. O convite soou como uma esperança de crescimento e de melhoria. Saía de uma cidade goiana e interiorana para a capital brasileira. Mesmo sem a companhia de Susana iria trabalhar como frentista. Em sua fantasia, o futuro o acariciava. Concentrado em si mesmo, queria que seus olhos, seus ouvidos, seu sentido de observação e orientação o dirigissem para o futuro. Queria ser mais do que um frentista.
Envolvido nestes pensamentos passou a se organizar depois de algum tempo já a trabalhar em Brasília. Tendo um horário fixo de oito horas diurnas, foi fácil de planejar na sua cabeça  como continuar os estudos. Havia na cidade vários programas de educação de adultos organizados pela Secretaria de Educação. Matriculou-se num deles e em pouco tempo era já um homem com mais perspectivas para vencer. Em três anos conseguiu fazer o segundo grau.Este desempenho lhe dava asas para prosseguir em direção à Faculdade que era exatamente o que ele queria. Desde jovenzinho, todo o seu sonho era ser doutor, doutor de direito, advogado, juiz, deputado, senador, presidente da república...Queria ser um brasileiro ambicioso e útil, um brasileiro em evidência.
Chegara a um ponto importante de sua carreira. Tinha um pequeno emprego e o segundo grau. Haveria que lutar muito ainda para alcançar o que pretendia.
Tudo parecia sorrir-lhe, mas ao querer construir sua vida com futuro, Nicolas caiu em depressão. Começou a sentir de maneira muito carente a ausência de Susana. Até aqui havia conseguido agüentar todo o trabalho e solidão para trabalhar e estudar mas agora sentia que nada valeria a pena se não tivesse alguém para dividir seus sonhos e seu futuro.
Era um período de prova e de perturbação, certamente. E muito duro. Falou isso para Susana. Mas teve a pouca sorte de não ter tido mais proximidade e diplomacia com Susana. Quando acordou, ela já estava comprometida. Ficara em Valparaíso e a vida para ela continuou. A moça encontrara um novo namorado e não estava disponível para responder ao apelo de Nicolas. Na verdade Nicolas nos últimos tempos, só pensava em Susana. Isso tornou-se quase uma obsessão.  Sabendo que Susana se encontrava com novo namorado, mal se agüentava no seu emprego. Solitário e triste não conseguia resolver sua vida com o não de Susana. E entrou em crise profunda.
Aconteceu, porém, um dia, com disposições diferentes e com muito orgulho, decidiu que poderia resolver. Segundo ele, iria resolver. E bem à sua maneira. O povo fala que goiano contrariado não há quem o detenha. E por isso Nicolas, embora confuso, decidiu comportar-se com radicalidade. Talvez enfronhar-se em noitadas. No underground. Era isto o que tinha na cabeça e o que pensava fazer. Para começar, passaria a sondar e a paquerar todo o tipo de mulher. Com o objetivo de esquecer Susana. Abordaria amigas, colegas de trabalho, talvez mulheres de rua. Todas. Exageradamente. Queria experiências. Radicalidade mesmo que moderada. Precisava de experiências bem sucedidas e experiências mal sucedidas. Precisava de bater com a cara na realidade. Queria desvelar a vida da emoção e do sentimento.  Precisava de sentir que Susana não era a única mulher do mundo, custasse o que custasse. O ponto de arranque para o novo comportamento de Nicolas aconteceu num dia em que decidiu folhear um jornal para procurar o telefone de uma casa de massagens no Plano Piloto. Sua intenção era a de botar papo com um tipo de mulherio que fosse mais livre para ver como iria se comportar na solidão em que estava. Muito longe do que poderia supor, a leitura do jornal foi para ele uma surpresa. Aqueles anúncios indicavam que havia uma fartura de mercadoria. Puxa, nossa..., dizia Nicolas...Que fartura de mulher... Que variedade... Quantas qualidades... E quanta disponibilidade. As mais variadas reações nasceram nele. De certa maneira, parecia-lhe que se achava Talvez encontrado. Mas seria mesmo? Nossa! Que fartura...E ele não sabia que havia um supermercado tão sortido e sofisticado...Tinha até mulher com vontade de recebê-lo em sua residência, de braços abertos. Mais do que isso. Tinha mulher jurando: “Te recebo despida”. Havia de tudo ali naquele mostruário da imprensa. Mulheres profissionais. Morenas insaciáveis. Gatas loiras. Loiraças de bunbunzão. Mulheres que poderiam oferecer-lhe massagem dançante com strip-tease. Tudo incrível. Tinha as fogosas, as mulheres de seios GG. Rosto e corpo de modelos, meninas deliciosas de dezoito anos, morenas sapecas e taradas. Fogosas gostosas. Verdadeiras felinas. Mulheres perfeitas e carinhosas. Todo este texto passava pelos olhos e pela cabeça de Nicolas. O que é que ele queria mais? Aparentemente nascia na sua fantasia um mundo fácil mas será que era bem isso o que ele queria? Estava cheio de raiva pela solidão em que Susana o deixara. Esse era o peso real que lhe inundava a alma. Gostava mesmo dela.
No fundo reconhecia que este tipo de vida fácil não iria oferecer-lhe nenhuma solução de vida. Sexo de mercado não era solução para ninguém, muito menos para ele, que amava. Continuava sonhando com Susana. E sonhando com Susana, voltava a sonhar com a vida. Durante os últimos anos havia feito uma boa poupança na Caixa Econômica Federal. Com base nessa poupança resolveu se matricular no curso de Informática de uma Faculdade do Plano. Começou a se corresponder  com Susana e ia-lhe contando todos os seus passos na escola de estudos superiores. Seu espírito estava se desenvolvendo e sua mentalidade ficando mais fina e se abrindo. Novos conhecimentos melhoravam sua cabeça. Nova visão das coisas o ia abrindo para a vida. Era uma realidade nova seu crescimento mental, psicológico e social. No ambiente universitário em que estava se formando tinha como colegas muitas meninas de sua idade. Meninas bonitas e graciosas. Aparte leves paqueras, mesmo assim não esquecia sua ex-namorada. Mantinha com Susana uma correspondência por e-mail e contava-lhe tudo o que se passava com ele na Faculdade. Um dia disse-lhe que tinha uma amiga que precisava de dividir uma quitinete para ajudar a pagar o aluguel. Nicolas propôs a Susana que seria uma boa oportunidade de vir para Brasília. Aqui havia muita oportunidade de estudo e trabalho. Teria onde ficar e depois ele a ajudaria a procurar emprego. Se viesse ficariam mais perto um do outro. Aconteceu que dois meses atrás Susana tinha se desinteressado no namoradinho de Valparaíso. Estava livre de compromissos sentimentais. Topou vir para o Plano, passou a morar na quitinete com a tal amiga de Nicolas e conseguiu um emprego de vendedora num balcão da Boticário.
Fixada no Plano Piloto e com a ajuda de Nicolas também Susana passou a freqüentar a Faculdade escolhendo um curso de nutricionista com o qual sonhava há muitos anos. Os dois namoradinhos Nicolas e Susana formaram mais tarde um casal feliz. Para comemorar o reencontro foram um dia dar uma volta pelo lago Sul e trocaram uns beijinhos quentes na Ermidinha Dom Bosco, de olhos para o Lago e para o Plano Piloto. Estavam enamorados de verdade. E passaram a morar num condomínio popular de Sobradinho. Sua história mostra como a vida está aberta para todas as pessoas que abrem sua cabeça e seu coração e teimam em procurar boas soluções para suas vidas.
João Ferreira
Brasília, novembro de 2011

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