Lenda do Caixão do Tio de Vivi
Vivi era uma menina de seis anos de idade, que morava com seus pais na cidade de Curitiba. O problema é que esta garota vivia sonhando que era atropelada por um homem e sempre acordava aos gritos.
Um certo dia, os pais de Vivi foram viajar e deixaram a menina em casa sob os cuidados da empregada, Dona Fiorela. Porém, naquela viagem os pais desta criança tiveram um acidente, na estrada, e faleceram. Logo, a empregada recebeu um telefonema, com a triste notícia, e foi comunicada que Vivi seria entregue a seu tio Arthur, que morava na região rural de São José dos Pinhais e que tinha a fama de ser um vampiro, pois, segundo a lenda, o rapaz guardava um caixão em casa. Assim, Fiorela deu a notícia para a garota:
- Minha querida, seus pais prolongaram a viagem e decidiram ir para o céu. Agora você vai morar com o tio Arthur num sítio muito bonito.
Naquele instante Vivi entendeu o recado, começou a chorar e exclamou:
- Eu sei que meus pais morreram!
- Não quero morar com o tio Arthur porque dizem que ele vira morcego e tem um caixão no porão!
Mesmo assim, no dia seguinte, a empregada levou a criança para o sítio do parente. A mulher bateu palmas e uma outra empregada de pele muito branca veio recebe-las no portão:
- Por favor, entrem!
- O doutor Arthur está esperando pelas senhoras na sala.
Quando as duas entraram na casa, viram um homem alto, branco com cabelos negros, barba e vestido de terno preto. Este rapaz falou:
- Seja bem-vinda, Vivi.
- Hildegard, minha governanta, irá mostrar seu quarto que fica no segundo andar da casa. Lá tem brinquedos, uma cama confortável e uma espaçosa suíte.
A garota subiu com a empregada para seu novo quarto e viu que o aposento era muito bonito e repleto de bonecas. Então, a menina perguntou para a governanta:
- É verdade que o ti Arthur é um morcego e que ele tem um caixão escondido no sótão?
Hildegard respondeu:
- Em primeiro lugar o seu tio não é um vampiro e deve ser tratado com respeito. Em segundo lugar, existe um caixão no sótão sim, mas isto não é nada relacionado com as lendas de terror que contam sobre esta casa. O que aconteceu é que o proprietário de uma funerária ficou devendo uma quantia muito alta para o dono desta mansão e não tinha como pagar. Então, o homem da funerária resolveu pagar o Seu Arthur com um caixão novinho em folha.
Vivi achou aquela história muito estranha e, quando tinha oportunidade, tentava entrar no sótão, mas o lugar sempre estava trancado. Sem falar que Hildegard vigiava esta menina o tempo inteiro.
Uma certa noite, seu tio foi a um baile e deu folga para todos os empregados. Logo, quando soube disto, Vivi foi ao sótão e notou que a porta estava aberta. Ela entrou no local e deu de cara com o caixão. Esta garota, muito curiosa, tentou abrir o caixão e conseguiu. Porém, dentro dele ela notou que havia uma guitarra e cartazes com as fotos de um cantor. Esta criança observou a fisionomia do artista e notou que os traços eram parecidos com o do tio Arthur. Logo, a menina desmaiou e veio em sua memória a cena dos sonhos que a perturbavam quando ela morava junto com os seus pais. Como num “flash”, Vivi percebeu que o homem que a atropelava tinha a cara do mesmo cantor do pôster. Então, a criança abriu os olhos e viu que seu tio, estava ao seu lado no porão.
Deste jeito o homem disse:
- Percebi que você descobriu o meu segredo.
A menina comentou:
- Tudo está confuso.
- Você foi cantor, ou, o homem que sempre me atropela em meus pesadelos?
O rapaz explicou:
- A dez anos atrás eu fui um artista famoso. Mas, me envolvi com coisas ruins como: drogas e bebidas. Uma certa madrugada, eu estava voltando de uma festa bêbado e atropelei uma menina que surgiu na estrada e que morreu por causa da minha imprudência. Então, eu resolvi fugir para esta chácara e pedi aos céus para que a criança que eu matei, sem querer, reencarnasse em alguém da minha família. Acredito que foi isto o que aconteceu.
- Acredite, não sou vampiro, mas já fiz muita gente sofrer. Agora, o universo me deu uma oportunidade de eu pagar pelos meus erros cuidando de você.
Luciana do Rocio Mallon
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