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Contos-->Ensaio do primeiro beijo -- 15/12/2012 - 15:40 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Não adianta se esconder de mim,  nem

de ti mesma, a tua luz continua acesa

brilhante e reluzente como uma estrela

 

Sete anos de trabalho na casa de Raquel, Vannini tinha. A própria Raquel que ensinara os serviços de camareira à menina, também lhe ensinara  como se comportar na entrevista para uma vaga de aeromoça.

Os bons modos impressionam favoravelmente, disse a patroa:  O modo de sentar, caminhar no corredor da aeronave ou ficar em pé, indicam a linha de educação, a personalidade  e o estado de espírito da pessoa. Tudo isso, de maneira mais natural possível porque a  fala ou os gestos excessivamente artificiais causam fadiga a quem ouve ou vê. A boa postura física impressiona, positivamente, na conquista de  emprego, trabalho ou pretensões de  casamento. Já o olhar doce cativa e transmite segurança. Não olhe  demasiadamente para o chão, nem para o alto. Mantenha um olhar horizontal, nivelando-se social e culturalmente com o interlocutor ou com a platéia. O olhar para baixo indica submissão, extrema inibição. E o olhar por cima, transmite arrogância e superioridade, o que nos dois casos, não é bom. Nunca caminhe apressada nem arrastando os calçados. O andar apressado revela nervosismo e o arrastar de chinelo, preguiça e apatia. O coração modifica a face e a face mostra o estado de espírito da alma, de modo que, em situações de normalidade, a expressão do rosto deve conter um sorriso suave e franco. Já em emergência, deve-se manter a tranquilidade. Nem sorriso fabricado, nem lágrimas. Tudo precisa estar sob medida, nem mais nem menos, concluiu Raquel. O que Raquel dizia era verdade. Muitas coisas na vida depende de criar-se uma cena, uma atmosfera propícia... Muitas pessoas se esquecem de ensaiar. Quase tudo na vida precisa ser ensaiado, ensaiar o colóquio amoroso  que começa na sala e termina na alcova. Vannini precisava ensaiar o primeiro beijo que neste  caso, era facilitar os meios para que ele acontecesse.

E aconteceu...

 Fernão chegou querendo como se não quisesse nada e se sentou ao lado de Vannini.Quis saber como ela  se saíra nos ensaios para a entrevista a uma vaga de aeromoça?

—Anotei tudo que tua mãe me ensinou. Quer que eu represente?

— Sim. Eu farei parte da encenação. Serei o empresário.

Ela caminhou pela sala. Parava, caminhava outra vez e dava avisos.

— Aplausos, disse ele.

E ela  deixou escapulir um sorriso que Fernão aparou com os lábios.

Não é preciso dizer que Vannini  estava no avião repassando a fita de sua vida. Recordações desastrosas, lembranças de um casamento fracassado. O dela.

Flap

O  Dispositivo localizado na parte  inferior da asa do avião foi acionado.

— Não faça isto, Hemor! — disse o copiloto — não podemos intentar aterragem agora. É mais seguro arremeter.

Momentos  depois, a chefe de comissários, entrou na cabine e viu o copiloto caído. Ele tinha sangue nas mãos e um cinto preso ao pescoço. O piloto, estava morto com um corte transversal na barriga e o   botão indicador de altitude estava desligado. Vannini acionou o side-stickcom a intenção de arremeter, mas o aparelho não correspondeu. Outra vez Fernão  traçou,  uma cruz, desta vez, só na boca, como se dissesse: “Fecha-te.Há muito mais na vida do que comer, beber e acumular divisas, brasões e estrelas nos ombros; há muito mais do que ser um líder, um formador de opiniões. Há mais beleza na imagem projetada pela  sombra de duas asas de uma ave do que todo encanto  das sete maravilhas do mundo”.

Levantou-se. Estendeu os braços como se quisesse abraçar o mundo, abraçar tudo que antes desprezava! Seu corpo pareceu leve, limpo e mais branco do que a neve. A alma nova lavada totalmente de sua falta, um coração novo, um homem novo a sorrir com a pureza de uma criança. Sacou a porta de emergência e tentou ficar em pé sobre a asa do avião cuja turbina pegava fogo. Desceria com calma, deixaria o corpo escorregar na horizontal. Alteraria sua aterrissagem de piloto em porta-aviões, para pousar como uma mariposa na jangada de Papyllon. Sem o brevê, sem incorporar-se à Esquadrilha da Fumaça, não poderia fazer um loop diante do olhar atônito de Vannini, senão naquela hora. Em seguida, deu ordens à sua mente: “Fernão, você é uma folha” e deixou o corpo cair, rolar no espelho das águas como uma folha seca tocada pelo vento. A água dura bateu em suas carnes, ardeu como choque em concreto. Não sabia se era capaz de suportar a dor dilacerante. Estava tonto, desorientado. As águas o envolveram. Algas passavam sobre sua cabeça e um camarão com sete barbas de profeta, disse-lhe: “Não queiras ir para Tárcis, quando eu te mandar para Nínive”. Fechou os ouvidos, tapou os olhos e mudou o pensamento. Deixou de lado a as leis da Física e ateve-se às noções de sobrevivência no mar.“Só tende salvar um náufrago, se tiver certeza de que não vai se afogar com ele”. Fernão precisava aplicar tudo que aprendera no curso de aviação sobre acidentes aéreos.

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