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Contos-->SOMBRAS DO PASSADO. -- 29/07/2009 - 20:09 (Ana Zélia da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
SOMBRAS DO PASSADO.
Ana Zélia

Nos labirintos da vida, seguindo trilhas, retornamos ao passado como reprise de filmes que não retornam ao mercado.
Infância vivida nos bairros de Educandos, Santa Luzia, Cachoeirinha, no antigo “Triângulo das Bermudas” onde quem entrava não saia.

__ IGARAPÉ DA PANCADA!, elo de ligação entre Educandos, Santa Luzia, Cachoeirinha, dependia da hora, do dia. Laços fortes nos uniam.
Encarregada de molhar as roupas estendidas no capim que as lavadeiras, minha avó, mãe, tias, vizinhas, usavam como quaradouro e onde o fogo ardia embaixo das latas de querosene que ferviam as roupas encardidas da freguesia. Eram donas de casa, maioria da classe marítima.

Quando cheio a travessia era a nado ou usando as tábuas que flutuavam. Pular das balsas, espécie de jangadas, feitas de troncos de árvores e tábuas, usadas pelas lavadeiras para lavar, bater e proteger as roupas, bacias, a filharada...

Seco, a brincadeira tinha inicio nos cascos de tracajás ou tartarugas, nos gravetos de pau-rosa. Sentávamos em cima e descíamos num escorrega sem fim. Atravessá-lo era fácil, o rio ficava raso. Às vezes usávamos um saco de estopa aberto e amarrado nas pontas, um de cada lado, pescando piabas que fritas com azeite e farinha alimentavam a petizada.
A maioria das casas era flutuante ou palafitas ou como dizíamos pernas de pau.

Quantos coleguinhas foram tragados pelas águas ou pela Mãe d’Água que as escondiam embaixo dos flutuantes, diziam ser castigo quando as lavadeiras não jogavam a elas pedaço de fumo (tabaco) que mascavam ou anis que bebiam para evitar a gripe. Por uns dias o medo de ser o próximo nos afastava do perigo.

Em junho, nas festas juninas, subir o igarapé até o Quarenta, era a maior diversão, íamos colher madeira para as fogueiras de Santo Antonio, São João e São Pedro.

Ah! Manaus! Como fomos cruéis contigo. O Igarapé da Pancada, um braço do Rio Negro, desapareceu poluído e fétido. A paisagem aparentemente está ficando bonita, mas a história ficou na memória. As crianças cresceram, mudaram e hoje, choram relembrando o passado. Nem sei mais onde era a minha casa, desapareceu na maldade de muitos governantes que continuam desprezando o passado.
Pular da Ponte de Ferro, entre a penitenciária e a Sub-Usina (usina de luz) que ligava o Centro à Cachoeirinha, era o máximo. Como minha coragem não dava pra pular do topo, descia para o alicerce debaixo e de lá voava para as águas. Maravilha.
Hoje, nem por dinheiro, o rio foi morto covardemente. Crimes que teus filhos pagam caro. O sol causticante assola ameaçando matar a todos. A natureza cobra o preço justo às nossas falhas.
E há outros: O “Igarapé do Mestre Chico”, que corta a General Glicério. O mais sofrido é o “Igarapé de Manaus”, quase todo aterrado para dar vida à “Nova Veneza”, engodo político que virou PROSAMIN.
Por que não mantê-lo vivo, preservando o leito e usá-lo como atração turística, usando canoas, cobrando o transporte, mostrando ao turista as belezas naturais, o “Palácio Rio Negro”, antiga sede do Governo e hoje Centro Cultural, as duas pontes romanas I e II, ali o rio abre os braços como que protegendo o palácio.

Ah! Manaus! Resta pouco ou quase nada do que eras. Num outro ponto, tenta sobreviver o Igarapé de São Vicente, que cruza o bairro de São Jorge, atravessa o Parque 10. Ontem lá também lavadeiras; banhos famosos com direito a Anfiteatro, cujo local permanece. Um espantalho a céu aberto. A antiga UTAM, poderia oferecer esta área a seus alunos para recreações ou mesmo uma escola de circos.

É cruel! Manaus!
Reclamamos do calor, mas as nascentes dos rios que cruzam a cidade foram ou estão sendo aterradas por força de “invasões” programadas, “Progresso”, mercado. É o preço cobrado por seres tão “Mão Aberta”.

SOMOS AMALDIÇOADOS?


És a “Mãe dos Deuses” e a teus pés curvam-se todos, menos os “Poderosos”.
O cruzamento de raças, povos, alguns conhecedores reais dos desertos, tentam e conseguem transformar-te no “CASTIGO DA SELVA”.
É o preço do “progresso”. Pobre Manaus!
Em 329 ou 150 anos traçaram o inferno em teu mapa. E os demônios se soltaram todos em teu solo. Logo, logo, até o Negro fenece e deixa chegar aqui o Solimões, antes barrado. Há sérias ameaças. O futuro dirá.

.Ah! Manaus! Quanta falta faz AJURICABA, o “caudilho da Selva”, que lutou até a morte para defender este solo sagrado. Hoje, os índios que restam estão morrendo próximos à cidade, longe de suas terras. São espectros de homens de quem retiraram tudo...
Invadida por “ETs”, forasteiros, quadrilhas de turistas, como diz “Porto de Lenha”. Nunca erigimos um Monumento ao Engenheiro Maranhense, Maior Governador deste Estado. EDUARDO GONÇALVES RIBEIRO, o “PENSADOR”, nome que a história preserva até hoje, homem que adoraste e enterraste.
Num contraste, diante do pequeno busto na Praça do Congresso, Av. Eduardo Ribeiro, centro da cidade., um monstrengo com mais de 13 metros, alusão aos 500 anos de escravidão, quando só temos 329 anos. Em contagem regressiva, eliminou de vez a figura de Eduardo ribeiro e numa afronta igual, encobriu o querido Instituto de Educação do Amazonas (IEA), fonte de saber de inúmeras gerações. Fiz parte de uma delas.
É o preço Manaus! Por seres tão leal e por não mais existir aqui, uma raça pura.
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Manaus, 25 de outubro de 1998
Nota da autora. 24 de outubro, aniversário de Manaus. Produtora e apresentadora do programa “Momento Poético”, por dez anos, a cada data uma chamada. O poeta é o delator de sua época. Passou, mas os resultados estão à vista. Ana Zélia



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