Desesperança*
Quero espaço e somente encontro zona
De atrito. Não consigo acalmar meu
Gênio. Debato só num coliseu
Que sufoca, amedronta e desmorona.
No teto aberto, sem telha nem lona,
Afasto-me de Deus (pareço ateu);
Entendo que a ilusão se foi, morreu,
Que a vida nada mais me proporciona.
Na rua, observo todos a passar
Como formiga, sempre num vaivém
Incessante, no mesmo caminhar...
Na longa fila do ônibus, do trem,
Muitos aguardam -- algo vai chegar!
E eu?... espero você, que nunca vem.
* Publicado na "Agenda Literária 1995", Rio de Janeiro (RJ): Litteris Editora, 1994, fev/20; "Saldunes", 2ª edição, Campinas (SP): Editora Komedi, 2006, p. 37; Antologia "O trem e o imaginário IV" (verso e prosa), Goiânia (GO): Editora Kelps, 2016, p. 24.
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