Usina de Letras
Usina de Letras
227 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62152 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10448)

Cronicas (22529)

Discursos (3238)

Ensaios - (10339)

Erótico (13567)

Frases (50554)

Humor (20023)

Infantil (5418)

Infanto Juvenil (4750)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140787)

Redação (3301)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6176)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Poesias-->O BANDEIRANTE -- 09/12/2016 - 23:13 (PAULO FONTENELLE DE ARAUJO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Se o Bandeirante quisesse poderia ressuscitar,

seguir por este rumo,

direto, sobre os edifícios,

e acorrentar índios,

até chegar ao rico estado de Goiás.

Mas ele permanece aqui,

enterrado sob este totem de concreto

da Praça da Sé, na cidade de São Paulo.

Ninguém sabe do seu cadáver

porque tudo era barro no seu tempo.



Se o Bandeirante quisesse poderia ressuscitar

seguir por esta outra rota,

direto, sobre os edifícios,

e acorrentar índios nus,

ver o rastro das mulheres brancas desaparecidas

(anunciaram nos postes de luz

o desespero das famílias),

até chegar ao rico estado de Mato Grosso.

No entanto, ele permanece aqui,

enterrado em frente à Catedral da Sé,

de majestade esplêndida e carregada.



Se o Bandeirante quisesse poderia ressuscitar,

seguir por aqui,

direto, sobre os edifícios, e pegar índios nus,

cheirar mulheres desaparecidas;

e cortar as cabeças dos travestis da cidade

(retalhados seriam em nome da Madre de Deus

e dos tucanos da floresta),

até chegar ao rico estado de Minas Gerais

Mas o Bandeirante permanece granizado aqui,

sob o fundo do marco zero,

sendo que seus ossos

formam uma estrela de cerâmica

para todos os lados.



Se o Bandeirante quisesse poderia ressuscitar;

e seguir nesta direção

direto, sobre os edifícios,

e acorrentar índios nus,

mulheres brancas, travestis

e tudo o mais que surgir para o abate,

(que o abate é o sentido do seu barro

mesmo ele sendo um cavaleiro da casa real)

até chegar ao rico estado do Rio de Janeiro

ou ao riquíssimo estado do Paraná

com suas Araucárias douradas,

mas os que duvidam estão certos;

o Bandeirante quer se fixar aqui,

e poupa o disparo de seu mosquete

para uma ocasião melhor.



Se o Bandeirante quisesse poderia ressuscitar;

seguir este outro sentido

direto, sobre os edifícios,

e trazer índios nus, mulheres brancas, travestis

até o nobre porto de Santos.



Porém, o Bandeirante permanece aqui,

enterrado no centro,

porque ele espera os guarda-chuvas.



Os guarda chuvas

que voam na praça da Sé

são novos morcegos

(O Bandeirante é apenas um homem tosco

do século XVII).

Morcegos pretos, roxos, vermelhos,

amarelos, celestes;

penduram-se sobre nossas cabeças

e há outros mais deslumbrantes,

morcegos rosas salpicados de pelotas brancas.

O Bandeirante nunca imaginou a sua cidade

- sempre isolada de todos -

no meio da chuva

e assim tão bonita.



DO LIVRO: "A CIDADE POSSÍVEL"
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui