O que eu vou ser quando crescer?
Não crescemos pensando em gravatas e burocracias.
Tampouco nos imaginamos amarrotado sem cubos,
Bovinamente protestando pelas veredas .
Quando crianças, não pensávamos na disfarçada sensaboria do mundo
Nem na explícita pausterização das palavras. Existia atrevimento,
Ainda que fosse apenas uma palavra importuna,
Ainda que fosse apenas um doce furtado da dispensa.
Enquanto rumino a estupidez do escritório,
Imaginando um plano plausível de fuga,
Experimento a direção introspectiva da mente:
Muitas virtudes abandonadas podem vir me socorrer.
Engordo e morro aos poucos, imaginando-me senhor dos meus caminhos,
Mas a alma definha, a cada ordem, a cada rotina, a cada instinto criativo assassinado.
Eu antes me imaginava tão especial, portador de palavras tempestivas de mudança,
Agora apenas martelo palavras educadas,
Ainda que em versos brancos e livres,
Ainda que carentes de lastro e dimensão.
Cravo no zênite das preocupações, uma referência onírica,
Uma esperança para o caminhar,
Um céu ausente para me despertar.
(Eder Kamitani)
|
