Chantecler (*)
Era vaidoso. Esbelto. Segundo alguns fazia sucesso esplêndido com o sexo oposto. Orgulhava-se da garganta: tinha um canto afinado e encatador.
Pensava que tudo girasse em torno de si e que poderia governar todos com o seu charme.
Para uma festa magnífica, é convidado. Comparece. Toma algumas (talvez até em excesso!) e tem de se ir mais cedo para os aposentos.
Chegando a casa, estica-se no primeiro lugar que encontra e, profundamente, dorme!
As horas passam. É manhã, ou melhor, quase madrugada. O sol começa, meio tímido, a dar notícias, no horizonte, de que aparecerá. Mais um dia há de surgir.
Ele, sonolento e perplexo, tenta abrir os olhos. A claridade o incomoda. Surpreso, comenta:
-- Puxa, eu pensava que o sol dependia de mim para se levantar. Sempre eu o fiz aparecer depois do meu mavioso e forte canto.
Agora?... tristeza, desilusão, realidade: o sol se levanta independentemente do meu cantar!.
Desperta-se e, trópego, caminha para mais um dia. Não canta. Com sentimento, chora e prosegue na esperança e na tentativa de novas conquistas.
Na França, o galo é um dos emblemas nacionais. No Brasil, mantido à parte todo o romantismo, vê-se, com muita facilidade, a pobre ave em rinhas e coisas parecidas...
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(*) Brasília, DF, 30/03/2007. |