Celênio, para o filho:
Perdoe-me por envelhecer,
foi inevitável, juro,
tentei ludibriar o tempo,
porém sucumbi diante de
seus cruéis desmandos;
perdoe-me por ter frágeis
pernas e memória,
ter turva a visão
e curta a respiração,
eu não as queria assim,
acredite,
bravamente, empenhei-me
para preservá-las,
os esforços foram vãos.
Perdoe-me por você
amar-me tão menos
e ignorar-me tão mais.
Tentei ser mais querido
apesar de
e menos rejeitado porque
sempre quis você,
imensamente.
Não logrei êxito!
Perdoe-me por emudecer,
você decidiu por mim
e eu, por respeito
ou paciência,
por fraqueza ou
conformismo, cedi.
Meu filho,
perdoe minha cega
obediência.
Celênio, para o pai:
Perdoe-me, pai,
pelo perdão mudo
que um dia implorou-me
e eu, surdo,
jamais lhe concedi.
Maria da Graça Almeida
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