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Poesias-->ÍNDIA AROAZES -- 26/08/2017 - 03:14 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos












ÍNDIA AROAZES

 

 

  

 

O sertanista no trem

levava os teréns

que podia levar:

uma rede, um facão

e uma pá.

Ajudava a sapar

alguma trincheira

que fosse cavar.



E, no meio da noite,

na mata Mafrense,

muitas léguas distantes

da civilização,

a lenha acabou,

e o trem parou,

porque a caldeira

não tinha pressão.



Ribeiro desceu

sem sol, nem luar.

Deixou logo o trilho

e pegou uma senda

sem luz e sem brilho

sem nada enxergar,

sobre os olhos a venda

da noite escura

e por sobre abrolhos

começa a pisar.



É aqui o lugar;


vou cavar uma fossa.

Preciso abrigar-me

e esperar a aurora

que não tarda a chegar.

Sem temer o perigo

de bicho selvagem,

o bom sertanejo,

com muita coragem,

fez ali seu abrigo

para descansar.



E, assim, na trincheira

por ele cavada,

a noite inteira

ficou a pensar...

Até que um raio solar

a incidir sobre os olhos

da fossa gelada

o fez levantar.



O dia amanhece

no topo da serra,

e o trem parece

querer galopar

como corcel arisco

nas rédeas do trilho.

Mas aquele filho

mineiro

não pode escutar

senão o clangor,

naquela manhã

do triste acauã,

solitário a cantar.



Veloz sobre os trilhos,

na curva dos montes

mais claros que via,

a semana inteira

o trem desafia

o tempo e o espaço,

quão rápido se sente

e, a cada dormente

que vê passar,

apita e fumega

mandando avisar:

cumpri a missão;

é o ponto final,

a última estação.



Mas, em longo percurso,

ninguém se dá conta

de que o companheiro

do norte mineiro

abandonara o trem

e seus passageiros

além, muito além. 

E, por outro caminho

andando sozinho,

Ribeiro está. 




Na sombra da mata,

sem sol poder ver,

não podia saber,

nem onde estava

e rompia a trilha

que convergia

para as fendas do outeiro.

Era o fim da senda

em que longe via

guerreiros tenazes,

nativos da terra,

bem no pé da serra,

a tribo Aroazes.



Mas o sertanista

sequer teve medo

daquele arvoredo,

que tanto queria

guardar o segredo

da tribo que, um dia,

em suas entranhas,

a mata escondia. 


 

Seu corpo cansado

de tanto andar

por horas a fio,

de sede aflito

procurava um rio

para a sede acicatar.

E, por sorte,

águas Aroazes 

do rio  Sambito

o salvaram da morte!



E, quando recobrou

o vigor e a força,

viu no espelho das águas

uma sombra de moça.

Doze anos, talvez não mais,

curtida de sol, pele tenaz,

cabelos negros,

seios róseos como romã,

corpo esculpido pelo vento

da cor do pecado de Tizo

e cheiro de maçã do paraíso.



Cabelos negros, mamilos rosados,

ralos pêlos pubianos no regaço,

nudez de corpo e alma cunhatã tinha.

Ribeiro desejou tê-la em seus braços,

mas subir frondosa árvore não podia.

Na copa mais alta do jequitibá,

jovem  índia aroazes se escondia.



Então resolveu, da mente inventar,

uma língua possível que pudesse levar

alguma mensagem qualquer àquela

mais linda selvagem, tão perfeita e bela,

mais linda e bela que a índia Alencar. 




- Jequiriti, jequitá!



Gritou Ribeiro


 em seu linguajar  e, como por encanto,

tomado de espanto e palpitação,

viu cunhatã descer

do mais alto galho

do frondoso jequitibá,

porque, ao nascer,

pajé lhe dissera:

Tu és a deusa Jequiriti-Jequitá,

palmeira frondosa, trepada no galho.

Quisera o espírito bom te mandar

cento e quarenta e quatro luas

e um deus de longe, vem pra perto

teu nome chamar.



- Jequiriti-Jequitá.



Sem nada falar,

Jequiriti-Jequitá

acenou para o deus

que há doze anos esperava.

Precisava fazer

o que pajé lhe ensinava.

E, pelo aceno, Ribeiro sabia,

naquele momento:

Jequitá  queria

instrumento de branco

para o chão escavar.



E ela, num salto felino,

numa mão tomou a pá;

na outra, o facão.

Passou a cortar

a rala caatinga

e, depois, a cavar;

desenterrou a cuiapitinga.



Cuiapitinga bem guardada,

há tanto tempo enterrada

no tronco do jequitibá.

Que cunhatã virou sobre si

derramando o líquido precioso,

escuro e cheiroso, daquela cuité

que pelo corpo a escorrer

fazia nascer a deusa-mulher.



E logo que seu corpo nu

se viu embebido

pela porção mágica do pajé,

atrelou-se em insaciável libido

ao sertanista em longo abraço

e entregou-se todinha

ao deus que ela tinha

por tanto tempo esperado.

E, em gozo medonho, caíram

no  sono pós-coito,

abraçados dormiram.



Longas horas se passaram

e, quando acordaram,

valentes guerreiros dançavam


 e aos deuses cantavam, 

sem nenhuma maldade,

a poderosa  dança


da fertilidade

enquanto mulheres jogavam,


nos  corpos despidos,

após os gemidos,

e para consagrá-los

aos deuses Aroazes,

límpidas águas lançavam

sobre os corpos vorazes

de amor saciados

dos deuses Jequitibá

e Jequiriti-Jequitá.



O sol já pendia quando

o valente cacique Cuiarana,

na rede  deitado,

mandou chamar o pajé

para invocar os espíritos

sobre marido e mulher:

os deuses Jequitibá

e Jequiriti-Jequitá.



Feita a pajelança,

em silêncio  ficaram,

esperando a voz da selva falar

cuiú-cuiú a cantar.

Anuncia, por fim,

a vinda da criança.

O tempo será


 nove luas

para curumim chegar.



Mas, enquanto dormia,

Ribeiro a sonhar

intrigado ficou,

porque parecia ouvir

carimbamba cantar:

“Amanhã eu vou”

“Amanhã eu vou”



Sem demorar veio

a noite de um novo dia...

Cuiarana e toda tribo bebia

aluá de milho e fumava diamba.

A carimbamba calou-se;

Ribeiro aproveitou-se

da alucinação da tribo

para empreender sua fuga

antes que nascesse o herdeiro

do cacique, seu filho, o deus

Cuiarana Jequiriti-Jequitibá. 




Precisava fugir, porque

curumim, uma vez nascido,

o pai seria oferecido

com a deusa Jequiriti

em sacrifício a tupã,

na primeira aurora da manhã,

E só havia um jeito de salvar

da morte a deusa Jequiriti:

se o espírito de Jequitá

levasse em suas asas

o deus Jequitibá.



No centro da ocara,

frondosa palmeira

o vento torcia,

enquanto por ela

Ribeiro subia

e, por sorte,

soprou vento forte

feito tufão,

derribando ocas,

levando ao chão

quase toda taba.

E, na copa altaneira

da grande palmeira,

Ribeiro cortou

uma enorme palha.

E, como uma gralha,

Ribeiro voou...



Passada a tormenta,

Cuiarana juntara

o que sobrara de seu

pra reconstruir a ocara


como presente do deus,

no alto da palmeira.

A vinte metros do chão,

Ribeiro deixara

o grande facão.





Cravado na palmeira,

o presente do deus

que trouxe a sorte

livrando da morte

Jequiriti-Jequitá.

Agora sozinha

podia esperar

nascer curumim,

sem ter que morrer

com Jequitibá.



Meninos!

Não minto;

eu canto o que sinto.

Meninos, eu vi

o corpo nu por inteiro

bonito e faceiro

de Jequiritii-Jequitá

Eu vi Ribeiro abraçar

e depois desmaiar.

Eu vi Jequiriti

trepada no Jequitibá.

Meninos, eu vi

Ribeiro por lá.

***




NA

A este  poema, em comentário no Recanto das Letras,  a amiga Celina Figueiredo chamou de o novo Gonçalves Diias.

Adalberto Lima.

Imagem: Internet




 

 

 








Adalberto Lima




Enviado por Adalberto Lima em 26/08/2017


















Texto








 






























ÍNDIA AROAZES

 

 

  

 

O sertanista no trem

levava os teréns

que podia levar:

uma rede, um facão

e uma pá.

Ajudava a sapar

alguma trincheira

que fosse cavar.



E, no meio da noite,

na mata Mafrense,

muitas léguas distantes

da civilização,

a lenha acabou,

e o trem parou,

porque a caldeira

não tinha pressão.



Ribeiro desceu

sem sol, nem luar.

Deixou logo o trilho

e pegou uma senda

sem luz e sem brilho

sem nada enxergar,

sobre os olhos a venda

da noite escura

e por sobre abrolhos

começa a pisar.



É aqui o lugar;


vou cavar uma fossa.

Preciso abrigar-me

e esperar a aurora

que não tarda a chegar.

Sem temer o perigo

de bicho selvagem,

o bom sertanejo,

com muita coragem,

fez ali seu abrigo

para descansar.



E, assim, na trincheira

por ele cavada,

a noite inteira

ficou a pensar...

Até que um raio solar

a incidir sobre os olhos

da fossa gelada

o fez levantar.



O dia amanhece

no topo da serra,

e o trem parece

querer galopar

como corcel arisco

nas rédeas do trilho.

Mas aquele filho

mineiro

não pode escutar

senão o clangor,

naquela manhã

do triste acauã,

solitário a cantar.



Veloz sobre os trilhos,

na curva dos montes

mais claros que via,

a semana inteira

o trem desafia

o tempo e o espaço,

quão rápido se sente

e, a cada dormente

que vê passar,

apita e fumega

mandando avisar:

cumpri a missão;

é o ponto final,

a última estação.



Mas, em longo percurso,

ninguém se dá conta

de que o companheiro

do norte mineiro

abandonara o trem

e seus passageiros

além, muito além. 

E, por outro caminho

andando sozinho,

Ribeiro está. 




Na sombra da mata,

sem sol poder ver,

não podia saber,

nem onde estava

e rompia a trilha

que convergia

para as fendas do outeiro.

Era o fim da senda

em que longe via

guerreiros tenazes,

nativos da terra,

bem no pé da serra,

a tribo Aroazes.



Mas o sertanista

sequer teve medo

daquele arvoredo,

que tanto queria

guardar o segredo

da tribo que, um dia,

em suas entranhas,

a mata escondia. 


 

Seu corpo cansado

de tanto andar

por horas a fio,

de sede aflito

procurava um rio

para a sede acicatar.

E, por sorte,

águas Aroazes 

do rio  Sambito

o salvaram da morte!



E, quando recobrou

o vigor e a força,

viu no espelho das águas

uma sombra de moça.

Doze anos, talvez não mais,

curtida de sol, pele tenaz,

cabelos negros,

seios róseos como romã,

corpo esculpido pelo vento

da cor do pecado de Tizo

e cheiro de maçã do paraíso.



Cabelos negros, mamilos rosados,

ralos pêlos pubianos no regaço,

nudez de corpo e alma cunhatã tinha.

Ribeiro desejou tê-la em seus braços,

mas subir frondosa árvore não podia.

Na copa mais alta do jequitibá,

jovem  índia aroazes se escondia.



Então resolveu, da mente inventar,

uma língua possível que pudesse levar

alguma mensagem qualquer àquela

mais linda selvagem, tão perfeita e bela,

mais linda e bela que a índia Alencar. 




- Jequiriti, jequitá!



Gritou Ribeiro


 em seu linguajar  e, como por encanto,

tomado de espanto e palpitação,

viu cunhatã descer

do mais alto galho

do frondoso jequitibá,

porque, ao nascer,

pajé lhe dissera:

Tu és a deusa Jequiriti-Jequitá,

palmeira frondosa, trepada no galho.

Quisera o espírito bom te mandar

cento e quarenta e quatro luas

e um deus de longe, vem pra perto

teu nome chamar.



- Jequiriti-Jequitá.



Sem nada falar,

Jequiriti-Jequitá

acenou para o deus

que há doze anos esperava.

Precisava fazer

o que pajé lhe ensinava.

E, pelo aceno, Ribeiro sabia,

naquele momento:

Jequitá  queria

instrumento de branco

para o chão escavar.



E ela, num salto felino,

numa mão tomou a pá;

na outra, o facão.

Passou a cortar

a rala caatinga

e, depois, a cavar;

desenterrou a cuiapitinga.



Cuiapitinga bem guardada,

há tanto tempo enterrada

no tronco do jequitibá.

Que cunhatã virou sobre si

derramando o líquido precioso,

escuro e cheiroso, daquela cuité

que pelo corpo a escorrer

fazia nascer a deusa-mulher.



E logo que seu corpo nu

se viu embebido

pela porção mágica do pajé,

atrelou-se em insaciável libido

ao sertanista em longo abraço

e entregou-se todinha

ao deus que ela tinha

por tanto tempo esperado.

E, em gozo medonho, caíram

no  sono pós-coito,

abraçados dormiram.



Longas horas se passaram

e, quando acordaram,

valentes guerreiros dançavam


 e aos deuses cantavam, 

sem nenhuma maldade,

a poderosa  dança


da fertilidade

enquanto mulheres jogavam,


nos  corpos despidos,

após os gemidos,

e para consagrá-los

aos deuses Aroazes,

límpidas águas lançavam

sobre os corpos vorazes

de amor saciados

dos deuses Jequitibá

e Jequiriti-Jequitá.



O sol já pendia quando

o valente cacique Cuiarana,

na rede  deitado,

mandou chamar o pajé

para invocar os espíritos

sobre marido e mulher:

os deuses Jequitibá

e Jequiriti-Jequitá.



Feita a pajelança,

em silêncio  ficaram,

esperando a voz da selva falar

cuiú-cuiú a cantar.

Anuncia, por fim,

a vinda da criança.

O tempo será


 nove luas

para curumim chegar.



Mas, enquanto dormia,

Ribeiro a sonhar

intrigado ficou,

porque parecia ouvir

carimbamba cantar:

“Amanhã eu vou”

“Amanhã eu vou”



Sem demorar veio

a noite de um novo dia...

Cuiarana e toda tribo bebia

aluá de milho e fumava diamba.

A carimbamba calou-se;

Ribeiro aproveitou-se

da alucinação da tribo

para empreender sua fuga

antes que nascesse o herdeiro

do cacique, seu filho, o deus

Cuiarana Jequiriti-Jequitibá. 




Precisava fugir, porque

curumim, uma vez nascido,

o pai seria oferecido

com a deusa Jequiriti

em sacrifício a tupã,

na primeira aurora da manhã,

E só havia um jeito de salvar

da morte a deusa Jequiriti:

se o espírito de Jequitá

levasse em suas asas

o deus Jequitibá.



No centro da ocara,

frondosa palmeira

o vento torcia,

enquanto por ela

Ribeiro subia

e, por sorte,

soprou vento forte

feito tufão,

derribando ocas,

levando ao chão

quase toda taba.

E, na copa altaneira

da grande palmeira,

Ribeiro cortou

uma enorme palha.

E, como uma gralha,

Ribeiro voou...



Passada a tormenta,

Cuiarana juntara

o que sobrara de seu

pra reconstruir a ocara


como presente do deus,

no alto da palmeira.

A vinte metros do chão,

Ribeiro deixara

o grande facão.





Cravado na palmeira,

o presente do deus

que trouxe a sorte

livrando da morte

Jequiriti-Jequitá.

Agora sozinha

podia esperar

nascer curumim,

sem ter que morrer

com Jequitibá.



Meninos!

Não minto;

eu canto o que sinto.

Meninos, eu vi

o corpo nu por inteiro

bonito e faceiro

de Jequiritii-Jequitá

Eu vi Ribeiro abraçar

e depois desmaiar.

Eu vi Jequiriti

trepada no Jequitibá.

Meninos, eu vi

Ribeiro por lá.

***








NA

A este  poema, em comentário no Recanto das Letras,  a amiga Celina Figueiredo chamou de o novo Gonçalves Diias.

Adalberto Lima.

Imagem: Internet








 

 

 












Adalberto Lima








Enviado por Adalberto Lima em 26/08/2017










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