Tem não!
Maria da Graça Almeida
Na noite anterior tive insónia e bem naquela hora minha vontade era só a de cochilar, pelo menos por uns instantes. Impossível !
Feito ladainha, a voz do guia soava insistente, patati... patatá, com o objetivo de fazer ressaltar as belezas do local. Ali eu pressentia a poesia, mas não conseguia captá-la...por isso é que agora, minhas andanças pelo lado de lá, registro tão-só nesta prosinha boba. Queria, na verdade, pinçar a então decantada magia do lugar, mas só o que fazia, e nem sempre com êxito, era esquivar-me dos ambulantes, que poluíam a paisagem, violentavam o silêncio.
Cocada branca , queimada, assada, queijo de coalho, bolo de rolo...cangas, batas, colares, anéis, chapéus, sandálias, berimbau, fitilhos coloridos...
Não obrigada!
Por favor, não insista.
Obrigada, já comprei.
Com licença, por favor!
Não, não quero!
Posso passar?
E a vendedora de ocarina, babando sobre a ceràmica pintada, tenta, sem sucesso,
fazer soar a Aquarela do Brasil. Cruzes!
Não, obrigada , não sei tocar!
Socorro! Minha voz foi sumindo...sumindo ... não, obrigada, não...
- Olhe o sorvete! -grita nos meus ouvidos o vendedor sob uma capa de suor- Carambola, jaca, umbu, jenipapo, cajá, graviola cupuaçu...
Não aguento mais! Reúno as minguadas forças das minhas cordas vocais já desafinadas e ouso:
- Moço, tem de limão?
-Tem, não!
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