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Contos-->O JARDINEIRO -- 27/05/2014 - 15:22 (valentina fraga) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Embrenhou-se mato à dentro, cônscio da tarefa diária.
Foi carpindo morro abaixo, na certeza de que a tarefa lhe seria menos pesada.
Tinha por certo, que tudo não passaria de 6 horas de trabalho, combinados com o patrão.
Cabe que no pico do terreno, havia um banco, onde, volta e meia,
quem queria espairecer, um bom uso fazia.
O que se via esticado à frente, além de uma seta dos ventos encabeçando a cumeeira , era um telhado colonial de cimento, resistente aos mais altos ventos, vindos do mar. Não havia sudoeste capaz de embeiçar uma telha sequer.
Além disso, deitava-se diante dos olhos, bem longe, pra caminhar e bem perto de se olhar, um punhado de casas, e depois um monte de mar, as ilhas ao longe, mais um outro tanto de céu, que dava a volta por sobre a cabeça, e vinha morrer nas costas de quem se pusesse a admirar.
Lá pelas tantas no meio da empreitada, o sujeito cansou, pegou sua garrafa d`agua, trazida direto da fonte que beirava seu terreno, distante um quilômetro dali. Não tomava água de fora. Pra onde ia, carregava junto a tal garrafa. Diziam pelas bandas de lá que era água batizada, água que passarinho não bebe.
Da janela da cozinha, enquanto preparava o almoço, a dona da casa, observava cada passo, cada mato retirado, no cuidado frequente, que não lhe cortassem os pés de norma que havia ganho de uma vizinha, velha e já há muito tempo falecida. Aquilo lhe parecia herança, dada por incumbência, desde o acontecido. Ducila lhe tinha um amor infantil, tanto à planta, quanto ao pequenez de olhos esbugalhados e latido esganiçado que mantinha em casa.
De fato, além daquelas horas estimadas, outras se puseram, dado o encantamento do sujeito pelo lugar.
No banco, estimado por sua dona, cuidado com zelo e periodicamente pintado, e protegido das intempéries , lá estava ele, observando a paisagem. Acompanhava silente, no intervalo do ruidoso cortador de mato, o alvoroço do casal de passarinhos que mantinham uma engenhosa moradia em cima do ar condicionado do quarto dos fundos.
Deixou que ficasse ali, admirado com tudo, e observava paciente o olhar distante do sujeito, na mais penosa curiosidade que alguém pode ter. O que pensava? Como era sua vida? Em que mundo estava preso naquele momento e quais histórias havia vivido em sua vida simples de jardineiro.
Depois das horas de atraso e tudo acabado, o sujeito apresentou-se na porta da cozinha, no aguardo do seu pagamento e na expectativa de saber o que a dona achou do seu serviço.
Ela aproveitou essa pequena abertura na peculiar timidez, e perguntou o que havia passado em sua cabeça que o deixou tão pensativo. Ao que ele respondeu:
-Dona, eu gosto do silêncio, e quando eu desligo a máquina, bebo minha água e me desligo também. Moro aqui perto, e aqui vivi muita coisa boa. Me desculpe se demorei.
E assim, sem dizer mais nada, o jardineiro agradeceu a oportunidade de mais uma vez prestar seus serviços e se foi. Ele e sua garrafa de água e suas boas lembranças.
Ficou a curiosidade, que a afligiu o dia inteiro. Do que tinha gostado? Em que mesmo ele pensava? O que tinha vivido ali? E nenhuma resposta foi dada.

Valentina Fraga
 

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