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Contos-->QUANDO O AMOR NÃO ACABA - Cap. XXXIII -- 01/11/2015 - 21:14 (Edmar Guedes Corrêa****) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
QUANDO O AMOR NÃO ACABA - Capítulo XXXIII

ÍNDICE DOS CAPÍTULOS
I - II - III - IV - V - VI - VII - VIII - IX - X - XI - XII - XIII - XIV - XV - XVI - XVII - XVIII - XIX - XX - XXI - XXII - XXIII - XXIV - XXV - XXVI - XXVII - XXVIII - XXIX - XXX - XXXI - XXXII

Desde o instante em que abri os olhos, por volta de nove horas, não consegui em momento algum conter a ansiedade, uma ansiedade que só se tornava maior, provocando-me momentos de grande inquietação. Era como se aproximasse o momento mais decisivo da minha vida, aquele momento em que daremos o maior de nossos passos. Embora, na realidade, não haveria grande passo algum; talvez uma promessa infundada, a qual seria, dias depois, relegada ao esquecimento como ocorrera com todos os outros grandes passos que eu prometi dá mas que nunca deixaram de ser uma promessa.
Após o almoço, minha avó disse precisar ir ao centro receber o pagamento de umas clientes e fazer algumas compras para casa. Embora fosse domingo, ela costumava visitar suas clientes em casa. Perguntou-me se não queria acompanhá-la. Talvez se não estivesse naquela inquietação toda, beirando ao desespero eu teria ido, pois sempre gostava de ir com ela em suas andanças pela cidade, as quais me permitiam trazer de volta velhas lembranças de minha infância; aliás como sempre acontecia quando eu ia ao centro. Mas acompanhá-la não me faria bem e certamente eu não aproveitaria nada daquele passeio. Na realidade, ele só me causaria angustia e talvez até me faria odiá-lo e ficar desesperado para voltar ao apartamento embora isso não contribuísse para a hora passar mais depressa. Assim, menti, dizendo-lhe estar indisposto e por isso preferia descansar. Ela ainda chegou a insistir uma última vez, mas prometi acompanhá-la no dia seguinte. Disse-lhe que na segunda-feira as lojas estariam abertas e teria mais oportunidade a aproveitá-lo.
Sozinho naquele apartamento não fiz outra coisa senão pensar em Diana, no nosso último encontro. Enquanto isso, lá fora lentamente a tarde morria com um certo ar de tristeza. Talvez porque, no fundo, eu sabia que momentos de felicidade iguais aqueles eu não teria mais. E a medida que o tempo passava, o coração ficava cada vez mais oprimido, como se uma mão invisível o apertasse. E durante as lembranças de nossos momentos em Juiz de Fora e Santa Paula, momentos que eu procura gravar na memória com ferro e fogo, ciente de que o tempo não podendo retroceder eu também não poderia revivê-los, nem mesmo uma vez mais, por mais de uma vez as lágrimas vieram-me aos olhos e escorreram abundantemente rosto abaixo.
As lembranças e as lágrimas alimentavam uma as outras. De forma que eu não sei se chorava tanto por causa das lembranças ou se as lembranças me eram tão dolorosas por causa das lágrimas. Quanto às lágrimas não há o que dizer. São lágrimas como quaisquer outras. E quanto as lembranças? Ah, eram tantas! Eu não só procurava relembrar aqueles momentos com Diana como procurava nessas recordações um ponto de apoio, um fio que eu pudesse me agarrar a fim de criar coragem para renunciar a tudo e permanecer em Juiz de Fora ao lado dela, já que eu tinha certeza de que a minha felicidade estava ali. Como de fato estava, pois nunca a encontrei em outro lugar, embora, se ali estava, eu também tenha deixado escapar.
Nunca desejei tanto ficar em Juiz de Fora para sempre, até o último suspiro de vida, já que a ninguém é permitido protelar o dia assinalado. Era ali que estavam as minhas raízes e os amigos de infância. Fora ali que vivi os melhores anos da minha vida. E por ironia do destino era naquela mesma cidade que vivia o grande amor da minha vida, um amor que o tempo e a distância conseguia esfriar e reduzir-lhe as chamas mas não tinha forças para apagá-lo e extingui-lo a ponto de tornar-se apenas uma boa lembrança. Eu sabia que o meu retorno para Santos não só me faria reviver momentos que eu preferia mantê-los enterrados no passado como também seria reinserido numa vida a qual eu não considerava a minha, numa cidade onde eu me sentia um exilado. Ter de assumir aquela vida chata e monótona do escritório, deparar com a lembrança de Fabiana, sentindo-me culpado pelo destino; ter de voltar aos braços de Luciana, já que dificilmente eu seria capaz de tomar a iniciativa de acabar àquele relacionamento, o qual já não tinha mais nada a nos oferecer; ter de voltar à faculdade e terminar meus estudos apenas para orgulhar meus pais, porque não sentia a menor vontade de conclui-los, embora eu não fosse capaz de afirmar quais eram os meus reais objetivos com relação ao futuro. Enfim, voltar para Santos era o mesmo que se trancar num convento a espera da morte; aliás, como muios fizeram e ainda faz nos dias de hoje.
Quando as lágrimas finalmente deixaram de correr, mudei o foco de meus pensamentos. Não lamentava mais o esgotar do tempo. Lamentar agora não adiantaria de nada e só me deixaria mais angustiado. Não queria que aquele último encontro fosse de tristeza. Assim, por várias vezes pensei em aventar a vinha avó na possibilidade de morar com ela. Claro que isso desagradaria meus familiares, principalmente meu pai. E minha avó ficaria numa situação delicada entre desagradar o genro e a filha e agradar ao neto. Mas qual avó não gostaria de ter o netinho querido morando com ela? Por isso eu já tinha tudo planejado: ligaria para casa e diria que não queria mais voltar. Talvez insistissem na questão da faculdade. Mas aí eu diria que daria um jeito de transferir meus estudos para Juiz de Fora. Afinal, não seria assim tão complicado fazer isso. Talvez tivesse apenas que refazer a grade e cursar algumas matérias extras. Só que havia um porém: faltava-me a coragem de tomar essa decisão. Se outras bem mais simples eu não fui capaz de tomar, por que seria capaz de dar um passo tão grande assim? Será que uma única vez na vida eu seria capaz de uma resolução? Teria coragem de jogar tudo para o ar em nome de um amor?
E para me dar um pouco de coragem, via-me encontrando com Diana todas as noites e nos finais de semana passeando em Santa Paula de mãos dadas com ela. Embora soubesse o quanto a mãe dela me odiava, ainda sim, ao assumir em definitivo o nosso relacionamento, esse ódio perderia a razão de ser e eu seria bem recebido em sua casa. Ah, como as coisas parecem fáceis em nossos devaneios! Via inclusive Diana ali, naquele apartamento, sentada à mesa, conversando com minha avó como grandes amigas, apesar de eu saber perfeitamente o quanto ela gostava de Luciana e a considerava a esposa perfeita para o neto. Portanto o meu envolvimento com Diana a desagradaria profundamente.
Por mais de uma hora, essas divagações agitaram-me a alma. No entanto, chegou um momento em que tais devaneios começaram a se esgotar e então a razão, essa estraga prazer que nos diferencia dos outros animais, começou a se impor. Daí as coisas não pareceram tão simples assim. E como acontece com todos os fracos, com aqueles que, diante da primeira dificuldade, desistem, passei a enxergar uma infinidade de obstáculos nessa empreitada. E quanto mais eu pensava, mais obstáculos surgiam diante dos meus olhos. E foi assim até eu me dar por vencido e admitir que não teria como abandonar tudo e ficar em Juiz de Fora.
Embora ninguém dependesse de mim, cheguei a conclusão que meus pais e Luciana precisavam de mim. Aliás, o que me fez declinar não foi tanto os meus pais, mas as lágrimas de Luciana ao me ver partir. É claro que a minha partida para Juiz de Fora não significasse um rompimento entre a gente, mas eu só conseguia ver a coisa por esse ângulo, exatamente porque estaria voltado por causa de outra mulher. Diante de todas essas dificuldades, a minha permanência em Juiz de fora não passava de mais um devaneio.
Não que eu tenha desistido desse projeto. Talvez usando uma desculpa, uma estratégia para não tomar uma decisão, cheguei a dizer que o melhor a fazer seria voltar para casa, terminar tudo com Luciana e organizar aos poucos meu retorno à cidade natal, ao meu verdadeiro lar. Lembro-me de exclamar: “Também não posso sair assim de uma vez. Faço mais um semestre na faculdade enquanto cuido de tudo. Aproveito para preparar meus pais. Assim, dá tempo para ele arrumar alguém para por no meu lugar no escritório.” Na realidade, eu estava iludindo a mim mesmo.
Depois de reconhecer que jamais teria aquela conversa com minha avó, mudei mais uma vez o foco de meus pensamentos. Decide atentar em algo mais real e ao meu alcance. Assim, levei os pensamentos àquela última noite que se aproximava. Víamo-nos no meio da madrugada nas escadarias do prédio, onde ela trabalhava, trocando as mais íntimas carícias, vivendo aqueles momentos como se fossem os últimos, como se o futuro não existisse. De fato não existia o futuro para nós. No fundo eu sabia disso, só não queria aceitar.
Eu me via em seus braços naqueles degraus, envoltos no manto da noite. E então minhas mãos percorriam-lhe o corpo por baixo da saia e da blusa, levando-a a arrancá-las não muito tempo depois, oferecendo-me a delicadeza de sua tez, a maciez de seus seios, os quais minhas mãos e meus lábios desesperados procuravam extrair-lhe o máximo de prazer.
Eu sei que nos devaneios não há limites, não há dificuldades e tudo parece estar a nosso favor. Tudo que poderia dar errado simplesmente não dá e tudo que nos ocorre simplesmente acontece como num passe de mágica. Apesar de estarmos nas escadarias de um prédio, ninguém chegaria. De fato, em pleno a madrugada, a maioria das pessoas está dormindo. Portanto, só por um grande azar alguém entraria ou sairia de um prédio de três andares e no qual há meia dúzia de apartamentos. Embora eu não tenha feito tais cálculos, essa quase impossibilidade me ocorreu instintivamente. Por isso eu fui tão longe e nos imaginado nos entregando um ao outro, o que jamais tínhamos feito. Talvez para que minhas fantasias ficassem mais reais e possíveis de materializar-se, Diana vestia uma saia curta, a qual eu só teria o trabalho de levantar, a calcinha que, após arrancada, pararia na bolsa dela, e, por fim, uma blusinha fácil de ser erguida.
Não foi o primeiro devaneio erótico com Diana. Tive muitos outros e o amigo leitor há de se lembrar de alguns. Mas este foi o primeiro onde havia uma grande possibilidade de se tornar real, já que, pelos nossos últimos encontros, Diana parecia disposta a se entregar a mim pela primeira vez. De mais a mais, nada nos impediria de fazer isso, a não ser a nossa própria razão, a qual nessas horas não chega a ser um problema, pois até ela parecia disposta a ceder. Alás, eu tinha quase certeza de que ela não recusaria caso eu insistisse. E a bem da verdade estava disposto a persuadi-la até o limite, já que talvez não tivesse outra oportunidade no futuro. Por isso eu fiquei num excitamento sem tamanho, o qual acabou me alimentando ainda mais os devaneios. Dir-se-ia de um efeito cíclico: um alimentava o outro, num círculo sem fim.
Mas chegou um momento, onde não me foi possível contê-lo. Não sei dizer ao certo qual foi esse momento; apenas me recordo de tomar a decisão de continuar aquela fantasia no banheiro, procurando dar-lhe um tom de realidade, como fizera dezenas de outras vezes no passado. Então me levantei e corri para lá, onde, diante do vaso sanitário, não precisei mais do que alguns segundos para sentir as pernas bambas.
Foi o que aplacou a ira dos meus instintos, trazendo-me a serenidade de volta. Então, voltei a sala e peguei a obra de Thomas Mann. Estava curioso para saber como seriam os primeiros momentos de Rans Castorp no sanatório nos Alpes suíços, onde ele fora visitar o primo Joachin. Também estava curioso para saber como o escritor alemão faria a analogia entre a condição doentia dos pacientes e o momento conturbado e decadente em que a Europa estava mergulhada pouco antes da primeira grande Guerra. Thomas Mann não era o meu escritor preferido, mas eu não podia deixar de reconhecer a genialidade do mais importante escritor alemão do século XX, do qual eu tinha lido Tonio Kröger e Morte em Veneza.
Cheguei a ler duas ou três páginas. Não me recordo direito. Perdi mais uma vez a concentração e, como já tinha acontecido antes, meus olhos corriam mecanicamente pelas palavras sem que estas formassem uma ideia no meu cérebro, o que me impedia de compreender o que estava lendo.
Súbito, meus pensamentos voltaram à Diana, mas não como antes. Agora não havia mais aqueles devaneios completamente sem sentido e recheados de luxuria. De início, pensei na roupa que usaria mais tarde; então, eu me vi impecavelmente arrumado, saindo do apartamento da minha avó, chegando diante do prédio onde Diana morava, tocando o interfone, ouvindo-lhe a voz e finalmente a porta abrindo lentamente, fazendo surgir a imagem dela. Nisso, via-a usando uma blusinha e uma saia marrom, a mesma que já usara num de nossos encontros. Não sei por que razão, mas eu tinha uma preferência por essa saia. Talvez porque lhe deixava as pernas longas a mostra, o que aguçava os meus instintos. Diana não era uma mulher bonita mas tinha belas pernas. Então sorrindo, abraçávamo-nos e nos entregávamos a um longo e apaixonado beijo. Após alguns instantes, víamo-nos saindo dali e chegando num barzinho ali em São Mateus. Por fim vi-nos naquele barzinho, trocando carícias, promessas não cumpríveis e fazendo juras de amor, até que a noite avançasse para retornarmos ao prédio, onde passaríamos a madrugada nas escadarias, entregues às carícias que não conheciam limites.
Não tive tempo de imaginar tais carícias. O som de passos no corredor, o que me levou a acreditar que se tratava de minha avó, desviaram-me os devaneios. Quando procurei retomá-los, foram parar em Luciana. Cheguei a fazer uma tentativa de ignorá-la e procurar focá-los em Diana, mas isso estava além das minhas forças. Até podemos manter um certo controle sobre o desenrolar de um pensamento, mas não temos controle algum sobre o que vem à nossa mente. O processo é inerente à nossa razão e é fruto da atividade do nosso inconsciente, uma atividade diretamente ligada ao instinto e as reações externas. Não se pode dizer: eu vou pensar nisso, assim, assim e assim. E então os pensamentos ocorrem. Um poeta disse certa vez que não escolhemos os nossos pensamentos, mas são eles que nos escolhe. Tenho de concordar com ele.
Confesso ter sentido um quê de saudade não só de Luciana, mas dos meus pais e dos colegas de trabalho. Eu esquecera completamente deles nos últimos dias. E apesar de que pensar em Luciana não me tenha provocado a mesma emoção que os pensamentos em Diana, tenho de reconhecer que desejei revê-la, beijá-la e passar a noite nos seus braços como fazia de vez em quando. Se não havia mais aquela paixão dos primeiros meses, havia um respeito, um carinho e um companheirismo que talvez fosse o laço a sustentar nosso relacionamento. Claro que ela me dava prazer quando nossos corpos se tornavam um, mas depois a coisa esfriava e nos tornávamos um pouco mais do que bons amigos.
O mais estranho em tudo isso foi a falta de arrependimento em traí-la com Diana. Se nas primeiras vezes, após o primeiro reencontro, a culpa tenha me afetado profundamente, naquele final de tarde em Juiz de Fora essa sensação não me afetava mais. Dir-se-ia não estar a praticar nenhum ato condenável e merecedor de reprovação. Não que eu não tivesse consciência de agir com egoísmo e de forma irresponsável, feito um garoto imaturo, mas isso não me parecia fazer a menor diferença, pelo menos enquanto estava em Juiz de Fora. Não sei dizer com certeza a razão disso, mas acredito que fosse porque eu estava certo de que jamais Luciana viria a saber de Diana. Se ela jamais desconfiara até então, não seria depois de todos esses anos que descobriria, até porque a distância estava do meu lado. Aliás, se ela não descobriu nada sobre Fabiana, com a qual eu a traía em baixo do seu nariz, com Diana não havia a menor chance. Assim, eu me sentia como aquele caminhoneiro que, ao passar a maior parte da vida na estrada, tem uma amante em cada localidade sem que uma venha a saber da outra.
Meus pensamentos não perduraram por muito tempo. Minutos depois, ouvi o som da chave na porta. Em seguida minha avó entrou com várias sacolas de supermercado. Corri para auxiliá-la, pois ela estava ofegante, devido ao peso daquelas sacolas. Arrependido do meu egoísmo por não tê-la acompanhado e deixado-a carregar todo aquele peso, resolvi ser-lhe prestativo e atencioso. E por cerca de uma hora dediquei-me a ela, ouvindo daquela senhora de cinquenta e seis anos um resumo de suas andanças pela cidade ao longo daquela tarde. Foi uma narrativa agradável, a qual me fez relembrar de muitos momentos passados naquela cidade, na qual eu continuava preso apesar todos esses anos fora.
A noite chegou sorrateiramente, cobrindo o dia com seu manto negro. Não vi o seu aproximar. Talvez porque estivesse ao lado de minha avó, diante da TV, dividindo o tempo entre a os programas e suas longas e humoradas narrativas, as quais me arrancavam vez ou outra uma risada. Quando finalmente consultei o relógio, passavam das sete. Então não pude evitar um sorriso contido ao dizer a mim mesmo em pensamentos: “daqui uma hora e meia a gente vai se encontrar. Vou tomar meu banho. Não posso me atrasar. Tenho de aproveitar esta última noite com ela. Não sei quando voltarei em Juiz de Fora para vê-la”.
-- Vou tomar um banho, vó – disse, levantando-me.
Deixei a sala, fui ao quarto e, depois de uma certa indecisão, separei a roupa, a qual escolhi pacientemente, estendendo-a na cama. Meu banho só não foi mais rápido porque resolvi fazer a barba, apesar de tê-la feito no dia anterior. Assim como Luciana não gostava do meu rosto áspero, com os curtos fios espetando-a, deduzi que isso também não deveria ser agradável a Diana, embora, pelo que eu me recorde, em todos esses anos, em nenhum momento, ela tenha feito algum comentário a esse respeito. Talvez porque na mais das vezes eu tenha ido ao encontro dela de barba feita, para impressioná-la.
Quando saí do banho, minha avó preparava o jantar. Como este resumia-se em sua maioria na sobra do almoço, não me causou inquietação um possível atraso. Em todas as vezes ela preparava o jantar em meia hora. Lembro-me, inclusive, de nos primeiros tempos surpreender-me com a sua rapidez em prepará-lo. Só alguns anos depois percebi a razão de gastar tão pouco tempo para isso: ela fazia o almo pensando no jantar e tudo aquilo que fosse possível deixar pronto ela deixava. Assim, era só esquentar. Claro que ela fazia alguma coisa diferente para que o jantar não fosse uma cópia fiel do almoço. Normalmente tratava-se de uma saladinha e uma mistura a mais.
Vendo-me sentar à mesa arrumado daquele jeito, deve ter deduzido minhas intenções. Se não fosse uma pessoa discreta, muito provavelmente teria me indagado se eu iria para rua. Assim como não fez em outras oportunidades, dessa vez também não me indagou. Fui eu quem, ao deixar a mesa, informei-a:
-- Vó, eu vou dar uma saída.
Mais uma vez ela não perguntou aonde eu iria e nem com quem me encontraria. Disse apenas para levar a chave, deduzindo o quão tarde eu retornaria.
Escovei os dentes, dei uma última consultada ao espelho e fui até a cozinha para despedir-me e dar-lhe um beijo.
Dois minutos depois eu descia as escadarias do prédio, no mais completo êxtase. Dir-se-ia dum adolescentinho apaixonada indo ao encontro de sua namoradinha.


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