A SOMBRINHA DA SORAYA
Paccelli José Maracci Zahler
Durante o Curso Científico (2º Grau), eu costumava acompanhar a Soraya até a sua casa, já que o nosso caminho era o mesmo.
Muitas vezes, ficávamos conversando por uma eternidade no portão. Era inexplicável tanto assunto, justo na hora do almoço.
Certa vez, começou a chover e eu estava sem guarda-chuva. Ela insistiu para que eu usasse a sombrinha dela, de cor grafite.
Eu disse que não era necessário, porém, ela insistiu e me disse que era para evitar que eu me molhasse e ficasse resfriado.
Sem jeito, eu aceitei e fui morrendo de vergonha até a minha casa, que ficava uma quadra e meia distante.
Ao chegar em casa, peguei meu guarda-chuva e devolvi a sombrinha imediatamente, para surpresa dela.
Naquela época, pelo menos em Bagé, meninos usavam guarda-chuva e meninas, sombrinha, por isso, para mim era muito esquisito ir para casa de sombrinha.
Quando vim para Brasília, em dezembro de 1982, em plena estação chuvosa, eu via pessoas usando sombrinhas indiferentemente, fossem homens ou mulheres.
As chuvas eram tão fortes, que o mais importante era se proteger da chuva, sem importar como.
Em 2005, tive a oportunidade de ir a Porto Alegre para fazer uma palestra em um congresso técnico e, como já tinha mantido contato com a Soraya, encontrei com ela.
Ela não tinha mudado nada. Sempre alegre, falando coisas engraçadas, de tal forma que, para mim, foi como se o tempo não tivesse passado, como se eu tivesse conversado com ela no portão no dia anterior.
Entre uma conversa e outra, eu comentei com ela a história da sombrinha, do quanto eu tinha ficado envergonhado e sem jeito.
Ela me disse:
- Se fosse hoje, eu tenho certeza que não irias aceitar a sombrinha!
- Por que? - perguntei.
Ela me respondeu mostrando a sombrinha verde-limão, com duas "orelhinhas" nas barbatanas e dois olhos bem grandes, simulando a cabeça de um sapo.
Realmente, seria o maior mico. Hoje, eu não aceitaria.
|