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Contos-->Deusa dos lábios de mel -- 26/12/2016 - 22:22 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Trabalhe a pedra bruta que lançaste na lixeira. Faça ficção. Convença o leitor que é uma realidade.  Ou que a realidade é uma ficção. Rapte Dina e deixe Páris acertar com seu arco o tornozelo de Aquiles. Por certo, Simeão e Levi ficarão satisfeitos porque alguém lutou no lugar deles contra Siquém. Ou então, tome a pastora que apascenta com seu amado os lírios do campo, apanhe o perfume que ela exala e ponha em Iracema.





— Alencar quis enaltecer a beleza da  América, não da índia Iracema. Não percebeste que Iracema é anagrama de América? É só trocar as letras de lugar.





— Nunca tinha reparado! Não sobra nenhuma letra.





— Nem falta!





Robert rabiscou no  papel a palavra:  Piracema  e apresentou a Ravenala.





— Veja: retirando-se o (p) iracema salta no meio dos borbotões de espuma.





— Onde queres me levar, Martin? Ainda não é tempo da  pirapora.





Ravenala percebeu que Robert conduzia o assunto à época de procriação, pois ele não retirava os olhos dos seios dela, pontiagudos e atrevidos, quase saltando fora da blusa.  Então imaginou-se entrando nos sonhos de Robert, a partir da imagem que criava de Martin, conduzindo Iracema  a uma   cabana nas margens do rio.





Pôs as mãos sobre os seios. Inclinou-se como uma plebeia reverenciando seu príncipe, e disse com maciez na voz.





—  Há uma grande cascata em uma das lapas do Pamecari.





Robert entendeu que ela brincava com as letras. Seu rio Pamecari estava em piracema.  Ravenala era assim mesmo: fazia menção de mudar o foco, mas permanecia na mesma linha de raciocínio. Com certeza,  seus anseios já subiam a correnteza. Ainda não chegara, no entanto, a maturidade dos alevinos para serem retirados do  aquário e lançados nas águas  do grande lago da Tijuca.





— Quero ter filhos, disse ela — não agora. Preciso de estabilidade econômica e só depois realizarei meu sonho de mulher.





Filho...filhos... Estaria o pai de Robert ainda vivo? Quem seria ele! O pai não estava no  RG,   nem no   álbum de família. Dona Leide falava vagamente de um colega de trabalho, um certo intelectual...E referia-se a ele como finado, sem citar o nome: o finado era assim... o finado era assado...No dia dos pais era um tormento para Robert. Algum menino maldoso lhe dava os parabéns: ‘Feliz dia dos pais!’ Outros,  indiscreta e estultamente perguntavam: ‘Você tem pai?’ Alguém nascer sem ter um pai? Mesmo que morto, continua sendo pai. Muitas vezes recebem por acréscimo ao nome a palavra finado ou defunto. Finado   fulano... Finado sicrano. Mas finado não é o pai. O pai é o fulano... ou o  sicrano... Ravenala também tinha vontade de perguntar sobre o pai de Robert, mas não sabia como. 





***





Adalberto Lima - fragmento de Estrada sem fim...


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