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Contos-->Saudade de Mirabela -- 28/12/2016 - 11:07 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos








Em noites de lua clara, a peonada se reunia no alpendre para ouvir estórias que ele contava, e as músicas que cantava ao som de sua  viola. Corina morria de paixão, ouvindo “Saudade de Mirabela”, que o marido, inventado de cantor, tocava na viola que Zé Coco fazia, com as próprias mãos, e um toco de canivete. Naquele dia,  Generoso Batista  disse aos cafuçus:  ‘Hoje não toco.’ Foi quando Tunico Oliveira se manifestou recitando Ferreira, em pé de verso, guardado na memória desde a mocidade. 



Dim dão, Dim dão...
 
João Grilo foi um cristão que nasceu antes do dia,
criou-se sem formosura, mas tinha sabedoria
e morreu antes da hora pelas artes que fazia. 
 
Nasceu de sete meses, chorou no bucho da mãe;
quando ela pegou um gato ele gritou: ‘não me arranhe’
não jogue neste animal que talvez você não ganhe.
 
— Atalho o frango ‘nêgo’ mole!
— Não me interrompa, patrão! Ainda quero trastejar uma cantiga que assuntava pai imitando seu Leandro Gomes do Pombal. 
 
Quando cachorro falava, gato falava também
Gato tinha uma bodega como hoje o homem tem
Onde vendia cachaça encostado ao armazém. 
 
Com a balança armada para comprar cereais
E na bodega vendia, bacalhau, açúcar e gás
Bolacha, café, manteiga, miudezas  e tudo mais.
 
O peru vendia milho, o porco feijão e farinha
Com um cacho de banana, mais tarde o macaco vinha
Raposa também trazia um garajau de galinha. 
 
Guariba vendia escova que fazia do bigode
Urubu vendia goma, porque tem de lavra e pode
A onça suçuarana vendia couro de bode.
 
A meninada ria. Corina aplaudia,  mas, naquela noite, Nhá não serviu café nem chá. Recolheu-se cedo, rezou o terço, e encomendou a Nossa Senhora do Carmo  os cuidados  com Onofre do Borá. ‘Criei aquele desnaturado até os dezessete anos. Ele fugiu de casa.  Segui suas pegadas, e me empreguei na cozinha de  dona Corina, ganhando como paga só o bocado de comer. Tudo para  não me apartar do  menino, e aquele moleque, agora taludo, nem sequer me pede mais a bênção. Vive triste pelos cantos como se arrastasse nos couros o mal da tristeza. Cruz, credo! Toma conta dele, Virgem Maria.’
A lua se esconde acanhada. 

O véu da noite adianta o ponteiro das horas. Tunico Oliveira  deu boa noite e saiu.  Demais camaradas o seguiram. Vaqueiro Onofre roça as canelas, abrindo carreiro no meio do  colonião. Cachorro Graudez o acompanhou até a casa. Nhá Santa dorme com o terço na mão.


***
Adalberto Lima - trehco de Estrada sem fim...




Imagem: Internet


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