FOLHA ESPLENDOR VITAL E FENECÊNCIA
Jan Muá
8 de setembro de 2022
Encaixadas no chão
Folhas folhas e folhas
Foram caindo ao longo da semana.
Uma duas três dezenas centenas
Agora milhares
Juntas unidas sem vento que as mova
Quietas
Convidam-nos a lembrar sua vida.
Em pleno verão
Quando fortes e verdes
Se mostravam plenamente vitalizadas
Tiveram jornadas de brisa prazerosa
Que romanticamente as balançou ao colo da árvore-mãe
Celebrando animadas a vida.
Mas agora repousam
Esperando a locomoção do vento
Ou o tropeço do caminheiro
Que as pisará e triturará.
À deriva no calendário da sorte
Deverão esperar
Em lances dramáticos
Quietas nervosas
Sem gestos de esperança.
São folhas caídas
Prostradas inertes
Abandonadas.
Ficarão ali à espera que algo aconteça
Até que venham a chuva e as enxurradas hibernais
Que as embalem pelas ruas ou arrastem pela calçada
Para os canais pluviais ou para as bocas de lobo
E dali para o lago onde se afundarão
Para virar limo na escuridão do fundo.
As que não caírem nas bocas de lobo
Ficarão ali nas mãos da sorte
Do vento e da água
Até que surjam as ordens finais da natureza-mãe
Que as encaminhará para o onipotente ventre da terra.
Jan Muá
08 de setembro de 2022
|