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Contos-->O negrume das asas de um corvo -- 06/01/2017 - 23:20 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




Sentiu o negrume das asas de um corvo.
Acabara de perder dez anos de trabalho, por causa de uma manobra errada em seu computador. A voz narrativa calou-se extasiada. Cessaram os sinos que batiam, enquanto reescrevia  as últimas  páginas do enredo. Ravenala refazia cenas e cenários, quando deslizou o mouse sobre duas ou três linhas no  final do último capítulo. Não conferiu o que selecionara e clicou em recortar. Salvou, e desligou a máquina. No dia seguinte, ao retomar o enxugamento, seu livro tinha sumido, das 256 páginas, restavam apenas 23 palavras.
Chorou.
Ravenala passava as mãos nos olhos, limpando as lágrimas. Era hora de tomar a estrada de Petrópolis.
— Hoje não teremos ‘sarau’ no sítio  de Alice.
— Pelo visto, a amiga precisa dos serviços de um encanador. Há um rompimento no canal da graça e todo teu rosto está banhado de sofrimento.
— Mesmo sob o peso da dor, é impossível segurar o riso, quando se tem diante dos olhos um humorista que faz do vale de lágrimas um cântico de louvor. Aceita um vinho?
— Aceito meia taça...
Naquele momento, Ravenala precisava de estímulos externos para libertar o pomo de Adão preso na garganta. Serviu vinho para Robert, e para ela, suco de maracujá.
— Veja! Consegui reduzir ‘Tranças Congeladas’ numa só página.
Robert não entendeu. Achou que fosse uma resposta a sua insistente ideia de enxugar, enxugar sempre. Excluir personagens, eliminar capítulos, ou até mesmo a contraditória sugestão de não jogar nada na lixeira.
— Jogou na lixeira?
— Se houvesse mandado para a lixeira, meu amigo! Seria fácil recuperar. Já consultei um técnico em informática. ‘Quando se recorta e salva, todo o texto selecionado, desaparece. Exala. Não há tábua de salvação. Perdemos o livro.
— Posso dar uma olhada nos arquivos?
— Ganhará um beijo se trouxeres de volta a família Generoso.
— Quantas vezes tropecei na tecnologia! Mas nem tanto assim, maninha. Meu Deus, Meus Deus! Das 285 páginas restaram apenas 23 palavras!
— Sim. Chorei muito. Tinha feito naquela semana enxugamento três vezes repetido, da primeira à última página. Escrevia até tarde da noite ou dormia cedo,  e acordava de madrugada, sob o impulso da inspiração. Escrevia... escrevia...Acrescentava, excluía...Foi  na última exclusão que perdi nosso tesouro. Fazia um recorte de poucas linhas no final da última página. Fui dormir. No outro dia... bem no outro dia já disse: restavam apenas poucas linhas.

***
Adalberto Lima, trecho de Estrada sem fim...


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