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Contos-->Manto de freira -- 08/01/2017 - 00:04 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O fogo se levantou entre os gravetos. Crepitavam os galhos verdes, e insetos saltavam em fuga espetacular. Abismados, Daniel e Ravenala viam imagens na lenta composição fantasmagórica da fumaça tocada pelo vento.
— Façamos a dança dos fantasmas – disse Daniel.
— Não! Quer pelo efeito hipnótico, quer pelo narcoléptico, que se dá com o uso da diamba, a  maioria dos rituais indígenas atraem maus espíritos que se apresentam como a boa alma de seus ancestrais.  Tenho medo de fantasmas. Até o general Custer temeu e enfrentou seus medos, levantando o exército norte-americano contra Touro Sentado. 
— Aonde queres chegar com esta prosa, Ravinha — interferiu Daniel.
— Àquilo que pode ser benéfico ao espírito, ou causar mal a ele. É preciso policiar além do que se faz, também o que ouve ou ver. Os olhos são janelas abertas para a alma. Quando vi o filme ‘Os fantasmas se divertem’ tive pesadelos. Há notícias na imprensa que a película ‘O Exorcista’ causou danos psicológicos ao público jovem dos anos 70. 
— Como pode encontrar-se entre cristãos, pessoas que lutam pela legalização do uso de drogas? Não avaliam os efeitos traumáticos da dependência química ou inescrupulosamente desejam aumentar o contingente de usuários, para que possam auferir maior ganho  em seus negócios escusos? Afinal, o maior fantasma do século XXI não é o estresse. É a drogadição que transforma os usuários em verdadeiros zumbis, (no sentido de escravos, escravos das drogas) sem ofensa aos irmãos quilombolas — ressalto.
— A dependência química não se limita a causar efeitos físicos. Atinge também o espiritual. Isso explica porque ao fármaco administrado aos usuários de drogas deve-se adicionar gotas da misericórdia divina.
— Não tive intenção de despojar teu manto de freira. Façamos a dança do fogo. Como seria a dança  do fogo na tribo de Apinajé? Deve ser algo semelhante ao que fazemos em torno de uma fogueira nas festas juninas.
— Ora Dan! Pouco posso dizer sobre essa tribo. Chanana é filha da índia Apinajé e não sabe quase nada de sua raça. Fala vagamente de sete irmãos que não conhecera. Eles fugiram logo que ela nasceu e lhe morrera a mãe. Vovó Corina dizia que Apinajé tinha  cor clara, quase albina. Talvez por isso tenha sido expulsa da tribo, ou pela mesma razão, fugido, afastando-se dos seus, porque índios albinos são sacrificados, também são sacrificados os gêmeos, que segundo a crença, albinos ou gêmeos, trazem  mau agouro à tribo.
— Não há de se estranhar infanticídio entre índios. Eles são selvagens. Inadmissível é o homem civilizado matar nascituros.
— Homem branco é mais selvagem que índio.
Levantou-se. Fez um gesto de chamamento, e Ravenala o acompanhou.
— Churrasco de tartaruga, que tal?
— Prefiro ovo.
— Onde vou encontrar ovo?
— Solte a tartaruga e siga os passos dela. Se tiver enterrado ovos, irá direto ao ninho. Como conseguiu capturá-la?
— Ela anda devagar. Difícil foi convencê-la a ficar de barriga para cima!
 Ha... Ha... Ha... Ha!...
Seus dedos se moveram em lento e harmonioso gesto de chamamento. E Ravenala  se aproximou mais da tartaruga.
— Veja como é fácil!
Colocou a tartaruga na posição de andar e bateu palmas cantarolando: ‘Lá vai a tartaruga uga...uga...’
  O animal correu com toda a pressa possível a uma tartaruga. Parou mais adiante. Jogou areia para trás e quase desapareceu no fosso que cavara. Só a lombada de sua carapaça    podia ser vista, enquanto a tartaruga padejava,  jogando areia  para os lados e para trás. Por fim, seu vulto desaparece detrás de um amontoado de areia da praia.
—  Ela entrou no buraco? 
— Não, no buraco põe os ovos, depois enterra.
—  Pois vá logo buscar  seu coador, Dan, teremos omelete!
— Trarei os ovos nas mãos.  O landuá é para pegar peixe!
—  Nunca vais pescar aqueles  que ficam na sala grande da gruta. Vai?
— Não! Quando a maré alta vaza, deixa piscinas. E fica peixe nas piscinas. Pescarei nas piscinas.
— Aprovado, aprovado, bravo!

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